terça-feira, 13 de abril de 2010

Ceticismo

Desci um dia ao tenebroso abismo,
Onde a dúvida ergueu altar profano;
Cansado de lutar no mundo insano,
Fraco que sou, volvi ao ceticismo.


Da Igreja - a Grande Mãe - o exorcismo
Terrível me feriu, e então sereno,
De joelhos aos pés do Nazareno
Baixo rezei, em fundo misticismo:


- Oh! Deus, eu creio em ti, mas me perdoa!
Se esta dúvida cruel qual me magoa
Me torna ínfimo, desgraçado réu.


Ah, entre o medo que o meu Ser a terra,
Não sei se viva pra morrer na terra,
Não sei se morra pra viver no Céu!



Augusto dos Anjos

domingo, 11 de abril de 2010

Ritual dos Sádicos, Por Rafaela Torres Galindo.


Não é de hoje que a Igreja Caótica, quer dizer, Católica, tem a lisura colocada em questionamento. Recentemente, a imprensa mundial divulgou maciçamente que o papa Bento XVI pode ter tido conhecimento detalhado de episódios de abuso sexual contra menores na igreja. De acordo com o jornal americano The Washington Post , Bento XVI, quando ainda era o cardeal Joseph Ratzinger, responsável pela Congregação da Doutrina e da Fé, em 1985, desaconselhou que um sacerdote californiano, acusado de ter molestado menores, fosse reduzido em estado laico. A publicação cita trechos da carta escrita por Ratzinger, na qual o então gestor da Congregação para a Doutrina da Fé expressou sua preocupação pelas conseqüências que a remoção do sacerdote poderia ter para o “bem da Igreja”.

A carta, dirigida à diocese de Oakland, fazia parte de uma série de correspondências que durante anos discutiam os crimes do padre Stephen Kiesle. Detalhe, o Vaticano confirmou que a assinatura presente no texto seria a de Ratzinger. Já o The New York Times publicou que, em 1998, o Vaticano teria ordenado que o processo canônico contra o sacerdote Lawrence Murphy, acusado de abusar 200 crianças surdas, fosse paralisado. Anteriormente, a Santa Fé havia alegado que quando soube dos casos, o “pobrezinho” do Murphy já era idoso e estava com a saúde debilitada. Assim, Lawrence escapou ileso sob a estirpe da Igreja Católica e, sobretudo, de Ratzinger.

A Igreja Caótica, ops! Católica, assim como outras instituições, tenta evitar os escândalos empurrando a sujeira para debaixo do tapete. Renunciar? Bento XVI? Creio que não seja apenas essa a questão. Sou a favor de que cada qual pague pelos erros, mas puni-los sem repensar sobre a estrutura do sistema eclesiástico, clerical e hierárquico seria abreviar, ou até mesmo abrandar, a pena. Sendo assim, teríamos que começar pela lei do celibato (falo teríamos porque acredito que a sociedade deve repensar essas pendências) que tolhe a liberdade do homem, mas não consegue refugiar os sentimentos de prazer, inerentes à raça humana. Depois, a própria sociedade deve ser responsável pela punição desses psicopatas que se aproveitam da inocência pueril, em prol de um ritual sádico nefasto e mais insano que alguém poderia ousar.

Tudo bem que não podemos estabelecer uma relação inequívoca de causalidade entre celibato e pedofilia, pois muitos parentes, até mesmo pais, abusam sexualmente de crianças. No entanto, não podemos nos desvincular totalmente do celibato obrigatório e a pedofilia, sobretudo, quando para se chegar a padre, se foi educado, reformado e engomado desde criança ou adolescente num internato. Logo, aumentando o risco de desenvolver uma sexualidade imatura. Sou a favor de que todos pensem e ajam com inteligência. Não estamos mais no século em que a Igreja Caótica, ou desculpe novamente, Católica, manda e desmanda. A Idade Média acabou. Mas, infelizmente, parece que carregou consigo, até a era da nossa frágil pós-modernidade, os infortúnios de uma sociedade louca e pervertida por valores morais decadentes.