sábado, 14 de janeiro de 2012
O estrangeiro, de Albert Camus
Apontado como niilista, revoltado, existencialista e comunista, Albert Camus foi sempre uma figura controvertida. O que não impediu que fosse considerado um dos maiores escritores franceses. Poucos conseguiam construir uma análise tão profunda e avassaladora da existência humana e do sentido da vida como o escritor, romancista, ensaísta, dramaturgo e filósofo francês nascido no ano de 1913 em Mondovi, na Argélia, país do Maghreb africano.
Camus não era propriamente um filósofo, mas, como escritor, interpretava dramaticamente as angústias e as esperanças da geração crescida entre os horrores da guerra. Em O estrangeiro, livro lançado em 1942 e que se tornou uma de suas principais obras, o protagonista do romance Mersault, anti-herói que personifica o Homem Absurdo, mergulha num mundo sem emoções, vivendo fora do sentimento e da tradição.
A carência de sensibilidade se transformará na própria arma que o tornará vítima da justiça. Entretanto, nem mesmo a máquina judiciária o fará mudar de comportamento. A inexistência de emoções leva a personagem a um vazio interior. Mersault passa por uma crise existencial que ultrapassa as fronteiras da compreensão humana. Desde a notificação da morte da mãe, passando por um ato homicida até a confirmação da condenação, ele age da mesma maneira.
Essa indiferença não se faz presente somente nesses fatos, os mais importantes dentro da trama, mas também em outras situações elementares e com menores relevâncias. O absurdo existencial da personagem procura conduzir o leitor a uma identificação com essa experiência, a mergulhar num mar vazio, onde a essência da vida é simplesmente viver. Por outro lado, a análise do trabalho como “arte” reside na capacidade de modificar o comportamento do leitor.
Ou o mesmo se adere à crise existencial ou repudia a conduta; repúdio que poderá comprometer a relação com o próprio autor. Talvez seja esse conflito que Albert Camus queira estabelecer em nossas vidas: a visão de que somos nada mais do que simples animais irracionais em nossa singela existência, que a morte nada mais é do que uma conseqüência natural da vida e que os sentimentos e a racionalidade não podem prevalecer diante de qualquer circunstância.
Dessa maneira, O estrangeiro é incrivelmente bem-sucedido pela maneira como conduz o leitor a uma reflexão existencialista da vida. Até hoje, é uma de suas obras mais conhecidas e discutidas, ao lado dos romances “A peste” e “A queda”, das peças de teatro “Calígula” e “Estado de Sítio”, dos ensaios “O homem rebelde” e “O mito de Sísifo”. Suas atividade continuaram até 1960, quando morreu em um acidente de automóvel, numa estrada da França, com apenas quarenta e sete anos de idade. Três anos antes, recebeu a consagração mundial pela sua obra, representada pelo Prêmio Nobel de literatura.
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