quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

O Deus-verme, de Augusto dos Anjos (1884-1914)

Factor universal do
transformismo.
Filho da teleológica matéria,
Na superabundância ou na
miséria,
Verme - é o seu nome obscuro
de batismo.

Jamais emprega o acérrimo
exorcismo
Em sua diária ocupação
fúnerea,
E vive em contubérnio com a
bactéria,
Livre das roupas do
antropomorfismo.

Almoça a podridão das drupas
agras,
Janta hidrópicos, rói vísceras
magras
E dos defuntos novos incha a
mão...

Ah! Para ele é que a carna
podre fica,
E no inventário da matéria rica
Cabe aos seus filhos a maior
porção!

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