domingo, 1 de abril de 2012

A Mãe, de Máximo Gorki

Todos os dias, o apito pungente da fábrica cortava o ar enfumaçado e pegajoso que envolvia o bairro operário e, obedientes ao chamado, seres sombrios, de músculos ainda cansados, deixavam seus casebres, acanhados e escuros, feito baratas assustadas. Sob o frio amanhecer, seguiam pela rua esburacada em direção às enormes jaulas de pedra da fábrica que os aguardava desdenhosa, iluminando o caminho lamacento com centenas de olhos empapuçados. Os pés pisavam na lama. Vozes sonolentas emitiam roucas saudações, palavrões dilaceravam, raivosamente, o ar. Mas eram diferentes os sons que acolhiam os operários: pesadas máquinas em funcionamento, o resfolegar do vapor.

As enormes chaminés negras, qual grossas toras de madeira, apontavam para o céu, dando ao ambiente um ar sombrio e severo.

Com o por do sol, cujos raios vermelhos iluminavam, cansados, os vidros das casas, a fábrica vomitava os seres de suas entranhas de pedra, como se fossem escória, enegrecido pela fuligem, sujos, fedendo a óleo, com o brilho branco dos dentes famintos. Agora, suas vozes demonstravam mais vida e até mais alegria. Por ora, a tortura violenta do trabalho havia terminado. Aguardava-os, em casa, o jantar e o descanso.

O dia consumira-se na fábrica, suas máquinas sugaram de seus músculos toda a energia de que necessitava. Mais um dia irremediavelmente riscado de suas vidas, o homem dera mais um passo em direção ao túmulo, mas ele antevia, apenas, o gozo imediato do descanso, as alegrias do bar repleto de fumaça e sentia-se satisfeito.*

*abertura

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