sexta-feira, 21 de maio de 2010

Curta A minha alma é irmã de Deus, por Rafaela Torres Galindo.



Baseado no romance homônimo de Raimundo Carrero, o curta-metragem A Minha Alma é Irmã de Deus, com direção de Luci Alcântara, conta a história da jovem e solitária Camila (Luísa Lobo) que, após assistir a um culto religioso da seita dos “Soldados da Pátria por Cristo”, cria o desejo obsessivo de tornar-se santa. O filme é, antes de tudo, uma crítica à religiosidade, uma vez que, a protagonista obcecada pelo seu desejo beira à própria loucura. Além da não-apreciação religiosa, o filme satiriza com o conceito de desejo, mostrando-o decadente, reverberando o poder que ele tem de deteriorar enigmaticamente a sociedade, pelo desassossego político e social.

Essas características se mostram claramente na primeira cena, quando Camila pede ao mecânico Ary (Roger de Renor) que seja “estuprada”, ensaiando uma espécie de competição sexual com a namorada do mecânico, Paloma (Laís Vieira). Numa obra carregada de dramaticidade e poesia, a história trata também da multiplicidade personalística vivida por Camila, que quando quer ser “de luxo e luxúria é Ísis, quando que ser meiga e santa é Mariana e quando quer ser prostituta é Raquel”. Saturado de simbologia, misticismo e superstição, a diretora Luci Alcântara conseguiu resumir bem a obra (de pouco mais de 300 páginas) em 20 minutos, num curta-metragem descrito por ela mesma como nonsense e surrealista.

Se fosse para definir os personagens em poucas palavras, os descreveria como sendo o retrato (surreal) da sociedade louca e pervertida pelos valores morais impostos pela Igreja, que acaba por influenciar no desenvolvimento do caráter humano, subjugando os indivíduos e criando uma espécie de “culpa social” por causa da busca do lugar ao céu. Afinal, para se chegar ao “céu” tem de ser “puro e santo”, tendo até mesmo que transcender aos desejos mais sórdidos e primitivos que habitam o ser humano (nesse caso Camila), onde só sua alma é irmã de Deus. A carne não

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