sexta-feira, 4 de junho de 2010

Quem não chora, não mama. Por Rafaela Galindo

Acompanhei com fervor a campanha dos fichas-limpas no Congresso Nacional. No entanto, fiquei perplexa, pois durante o trâmite, o projeto de lei sofreu inúmeras alterações, e mesmo conseguindo a aprovação sofrida na Câmara dos Deputados, no Senado (e agora com a sanção do presidente Lula), a medida corre sério risco de cair no jogo político brasileiro, que, costumamente abarca os politiqueiros no ventre da corrupção e das falcatruas.

Tudo começou, quando Michel Temer (PMDB), aspirante à vice na campanha da presidenciável Dilma Rousseff (PT), criou uma emenda permitindo o candidato “ficha-suja” entrar com recurso e recorrer, mesmo condenado. De acordo com Temer, essa mudança evita que aja “perseguição política”. Cof cof! Já a segunda alteração, apoiada pelo vice de Dilma, estabelece que o registro só será negado, caso haja alguma ação, em primeira ou segunda instância, imposta por um colegiado e não por um único juiz.

Cá pra nós, mas tudo isso não passa de balela! Mais uma das jogatinas políticas, que insiste em depender das ações morosas do sistema judiciário brasileiro, escondendo tudo na fortaleza da mentira e da miséria moral. Como se não bastasse, outra emenda foi apresentada pelo senador Francisco Dornelles (PP/RJ), na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, a medida deixava claro que somente quem for condenado depois da sanção da nova lei é que será impedido de se candidatar.

A emenda criada por Dornelles pode ter o efeito de não apenas livrar os já condenados em segunda instância, como também empurrar a vigência do projeto para as próximas eleições. E mais do que isso, jogar a decisão para a última palavra do Supremo Tribunal Federal (STF). O esperto Dornelles conseguiu criar um “gatilho” que pode acabar por inviabilizá-la, pelo menos para as eleições deste ano, assim, conseguiu também fazer com que políticos, como o deputado Paulo Maluf- fundador e membro do Partido Progressista- possam se candidatar e passar incólumes pelas eleições de 2010. Até agora, o tiro parece ter saído pela culatra.

O mais engraçado é que tanto Michel Temer, como Francisco Dornelles são postulantes ao cargo de vice dos presidenciáveis Dilma e Serra respectivamente- Dornelles está sendo cogitado. Agora me responda caríssimos leitores e eleitores, como poderemos votar em pessoas que se articularam- com todas as artimanhas possíveis- para mudar o texto popular? Essas medidas só fazem materializar a idéia de que, o Congresso é formado por esse inconho corporativista, cheio de alianças políticas PMDB com PSDB ou com PT, ora, tanto faz!

O negócio é mamar. O negócio é ato secreto, castelo, farra de passagens aéreas, mensalão, caixa 2, propina, empreiteiro, doleiro, lobista, lo-la-lulismo. AAAAH! Nós somos uns sonhadores idiotas, isso sim. O projeto não foi aprovado em sua estrutura máxima, porque já condenava, de antemão, 208 deputados, além de 29, dos 81 senadores- incluindo o presidente bigodudo. Não, não gente! Talvez, nós brasileiros, estejamos precisando é de uma boa dose de crise. Sim, sim! Pois, só diante do fracasso é que sentimos o peso da nossa miséria maior. Falo isso porque, não será um projeto (por mais eficiente que seja) que irá mudar 500 anos de corrupção.

A raiz do problema está nas oligarquias que habitam os extremos do País, nas alianças anti-democráticas e na constituição leviana. Talvez, se mudarmos o foco do debate, a começar por discutir uma ampla reforma política, possamos ver o País tomar outro rumo sociopolítico. No mais, se continuarmos assim, estaremos sempre a mercê das decisões tomadas lá, lá, lá onde tudo e NADA acontece, no outro País, chamado Congresso Nacional.

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