sexta-feira, 15 de abril de 2011
Uma câmera na mão e uma idéia na cabeça: por um cinema da contaminação, por Caio Rodrigues
Considerado a obra inspiradora do Cinema Novo, Rio 40 graus, do diretor Nelson Pereira dos Santos, é a narrativa da história da sociedade brasileira no Rio de Janeiro pós-governo Getúlio Vargas. Através do cotidiano de cinco meninos de uma favela que tentam ganhar a vida vendendo amendoim, o diretor e roteirista denuncia as contradições do sistema capitalista então vigente.
Produzido em 1955, o filme possui forte influência do realismo poético francês, notadamente da nouvelle vague, e do neo-realismo italiano, ao buscar, através do uso de elementos da realidade numa peça de ficção, representar a realidade social e econômica de uma época. Nelson Pereira dos Santos era comunista filiado ao partido PCB e utilizou Rio 40 graus como veículo estético-ideológico de resistência.
Sua temática, protagonizada por (não) atores amadores, analisa as pessoas da classe operária imersas em um ambiente injusto e fatalista, sempre encontrando a frustração na eterna busca por melhores condições de vida. Na exploração da crônica selvagem do lumpemproletariado, na utilização de uma linguagem popularesca e na radical experiência de contaminação através da “apresentação” da sociedade em vez da representação, Rio 40 graus é um filme de desterritorialização.
O filme enfrentou vários problemas desde sua concepção, como a censura da obra pelo chefe da Segurança Pública na época, Geraldo de Menezes Cortes, ao alegar que a mesma estava repleta de elementos comunistas, passava uma má imagem de políticos e possuía várias gírias, além de ser mentiroso, já que nunca se havia registrado, até aquele momento, a temperatura de 40 graus no Rio de Janeiro.
Precursor do movimento que nasceu para elevar o status do cinema de arte nacional, Rio 40 graus é parte importante da filmografia essencial para qualquer cinéfilo. No Brasil, nomes como Glauber Rocha, Rogério Sganzerla e Leon Hirszmann se lançaram como defensores dos preceitos e da estética estabelecida no país por Nelson Pereira dos Santos.
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