segunda-feira, 9 de maio de 2011

Alegoria do triunfo de Vênus (1540-1550), de Agnolo Bronzino


O artista florentino Agnolo Bronzino se especializou em realizar sofisticadas narrativas alegóricas. Ele fez cuidadosos estudos com modelos vivos e utilizou como referência para as imagens nuas presentes em Alegoria do triunfo de Vênus, de modo a criar uma cena de erotismo tranqüilo.

A composição da pintura é coesa e complexa. O velho no canto superior direito, com uma ampulheta posicionada acima dele, é a personificação do Tempo. Os demais personagens à direita representam os prazeres; já os personagens à esquerda personificam entes como o Esquecimento, o Ciúme e o Desespero. As imagens entrelaçadas e que olham para lados diferentes, a fim de acrescentar movimento à tela, juntamente com as mãos e os pés alongados dos personagens centrais são típicos das obras do estilo maneirista.

Bronzino, além de pintor, foi um intelectual e poeta. Essa obra foi influenciada pela poesia erótica do poeta italiano Petraca, o que pode ser visto na expressão de intimidade de Vênus e Cupido. Mas a relação entre os dois principais personagens tem também um quê de obscenidade. Bronzino se sobressaiu ao retratar as superfícies e a pele de Vênus com um brilho especial e com um acabamento delicadamente polido, semelhante ao alabastro. Seus membros foram modelados à perfeição e bem definidos com contornos claros, reminiscentes da escultura clássica.

A obra foi encomendada como um presente para Francisco I da França, e seu simbolismo – cujo significado preciso é desconhecido – teria provocado entusiasmadas discussões palacianas. Mistura de erotismo estilizado com o que parece ser uma edificante alegoria, falta à obra, contudo, a intensidade emocional dos trabalhos do mestre de Bronzino, Pontormo.

DETALHES DA OBRA

1.Esquecimento

A imagem do Esquecimento, com uma expressão horrorizada e um rosto mascarado, parece tentar encobrir o amor incestuoso de Vênus por seu filho, Cupido.
O esquecimento parece ser impedido pelo poderoso braço da imagem do Tempo, que sabe que todos os assuntos dos homens são passageiros.

2.Beijo incestuoso

Não há dúvida sobre o caráter erótico do beijo entre Vênus e Cupido, já que a língua dela parece estar em movimento. Cupido é identificado por suas asas e flechas, e Vênus pela maçã, de modo que os espectadores não possam ignorar a verdade da pintura. Alguns proprietários do quadro chegaram a fazer com que o detalhe da língua fosse encoberto.

3.Quimera

Agachada atrás do menino feliz está a personagem alegórica da Quimera, uma criatura cujo corpo grotesco destoa do rosto encantador. Com uma de suas mãos, Quimera oferece a Vênus um bolo de mel, mas a outra mão esconde o ferrão em sua cauda. Sua presença é um aviso da dor que o amor erótico pode causar.

4.Menino travesso

Segurando pétalas de rosa em suas mãos, o menino travesso está pisando num espinho, reforçando, assim, o caráter ambivalente do amor. Ele costuma ser interpretado como o Prazer, mas também como o Louco ou Zombeteiro. A posição de seu braço, prestes a espalhar as pétalas, acrescenta um toque de movimento típico do maneirismo.

5.Máscaras

Outro lembrete das falsas aparências, se voltam para Vênus, e o espectador acompanha a linda de visão por todo o braço esquerdo da deusa, atravessa seu corpo, passa por seu braço direito e segue até o braço do Tempo. Nessa estrutura, os olhos acompanham o olhar de vários personagens, quase todos voltados para Vênus.

6.Mulher uivando

Esta personagem elouquecida é um dos poucos elementos a arruinar a atmosfera leve e divertida da pintura. A mulher curva a cabeça e toca em seus cabelos com mãos que parecem garras, com todos os tendões à mostra. A imagem personifica o Desespero ou Ciúme, e às vezes é relacionada à loucura causada pela sífilis.

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