terça-feira, 30 de março de 2010

Pega ladrão!, por Rafaela Torres Galindo

Acompanhei com fervor o escândalo do mensalão do Democratas. Agora, a última novidade ocorreu nesta segunda-feira, com o protagonista do mensalão, José Roberto Arruda (sem partido), usando o direito (permitido pela Constituição brocha) de ficar calado, com o intuito de não responder o questionário da Polícia Federal (PF) sobre o esquema de corrupção do Distrito Federal. Por orientação do advogado Nélio Machado, Arruda afirmou que só vai falar quando tiver acesso a todos os documentos do inquérito. Só assim, temos ideia de como é frágil a nossa Constituição que, muitas vezes, serve de estirpe para abrigar corruptos narcisistas, numa profusão de caras, gestos, fatos, dinheiro, cuecas e meias em nossa consciência política.

Dos 11 convocados, apenas três se dispuseram a falar à PF, o ex-presidente da Câmara Legislativa, Leonardo Prudente, o ex-secretário de Educação, José Luís Valente e o empresário (empreiteiro), Alcyr Collaço, que também aparece nas filmagens. Já a principal testemunha do esquema, Durval Barbosa, conseguiu, no Tribunal de Justiça do Distrito Federal, um habeas corpus para se manter em silêncio na reunião da CPI da Corrupção da Câmara Legislativa, ocorrida na última terça-feira. O ex-secretário de Comunicação, Welligton Morais, preso há mais de 45 dias no Complexo Penitenciário da Papuda, também preferiu permanecer calado durante o depoimento realizado ontem. A mesma estratégia foi utilizada pelo ex-vice governador, Paulo Octavio, na semana passada, quando se apresentou “espontaneamente” à PF.

A pocilga que afundou Arruda no lamaçal da baixaria e da corrupção não arrancou de Lula nem mesmo uma palavra de indignação. “Imagem não quer dizer tudo”. Pois é! Esse tipo de psicopatia política nem mesmo Freud ousaria explicar, ou quem sabe a resposta não está nos 76% do índice de popularidade do presidente que desbanca qualquer certeza de realidade? A nossa única convicção é a de que o pragmatismo corroeu a ética da política brasileira. É tudo tão técnico que facilmente pode ser desviado nas lacunas deixadas pela Constituição. É por essas e outras, que ainda existe gente querendo defender ladrão de paletó e gravata. Nélio Machado, por exemplo, aproveitou-se da situação e já encaminhou um novo pedido ao STJ para que o ex-governador seja solto.

Mesmo com as verdades mais cristalinas, a sol à pino, os nossos politiqueiros insistem em se refugiar através das desculpas mais estaparfúdias. No caso de Arruda, os panetones. Aaaah os panetones! Para sustentar a versão de que a quantia de R$ 50 mil, recebida em 2006, era uma contribuição para a compra de panetones, Arruda montou uma licitação, no mesmo dia em que a PF deflagrou a Operação Caixa de Pandora. Já está mais do que na hora, de nós brasileiros repensarmos nessas situações que abusam da nossa inteligência e paciência. A política, definitivamente, não pode ser alimentada por meio do pão e circo. Dessa maneira, seria querer justificar os fins pelos meios. E esse sistema cabia, sim, em séculos passados, mas não em um País como o nosso. Por mais frágil que seja a democracia, nós temos que gritar: PEGA LADRÃO! Porque do jeito que vai, simplesmente não dá!

Não tem boquinha não!


O ex-secretário de Comunicação do Distrito Federal, Welington Morais, envolvido no mensalão do Democratas, só pode conversar com seus advogados na cadeia sem usar nenhuma peça de roupa. A decisão foi feita pelo ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Fernando Gonçalves. Depois do dinheiro na cueca e nas meias, todo cuidado é pouco.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Kurozawa, um ícone centenário


Difícil cartografar o extenso deserto que separa o nascimento de um homem e a sua transformação em cânone. Nem o sangue mais denso dá a imortalidade a alguém, senão a competência em esculturar as contingências que se impõem. No caminho traçado pelo cineasta japonês Akira Kurosawa, uma muralha se atravessava de antemão, com o peso irremovível de uma história de reclusão nacional. A força poética de suas imagens, porém, francamente exibidas numa tela encampada do outro lado do muro - o Ocidente - revelaria o que é dado histórico: espontaneamente, o isolamento se revela miragem.

Kurosawa nascia no dia 23 de março de 1910 - completaria centenário na última terça-feira. Veio ao mundo décadas após o fim do regime feudalista que mantinha o Japão amplamente rural, àquela altura alheio à maciça industrialização que acometia boa parte do planeta. No ínicio do século 20, restara ao País uma cultura que ainad se mantinha hermética à influência européia ou americana. O diálogo se abria aos poucos, fosse pela via do atrito político, descambada em guerra, ou pela progressiva chegada de produtos ocidentais no país, entre eles os filmes. Faminto, Kurosawa começou a conhecê-los ainda jovem, apaixonado pelos ícones iniciais do que viria a ser o cinema clássico.

Entre as décadas de 1940 e 1990, o cineasta realizaria 30 obras, virando ele mesmo um dos nomes estampados em qualquer cartilha para iniciantes na história da arte cinematográfica. Com a sua morte, em 1998, ficou legado artístico que influenciou abertamente o cinema europeu e americano. Steven Spielberg, Francis Ford Coppola, George Lucas e Martin Scorcese, quarteto emblemático das últimas décadas hollywoodianas, herdaram de Kurosawa certo perfeccionismo de autor, negando a intrusão de qualquer escorregão possível na semântica entre trama e acabamento plástico.

Sua trajetória afinou cada vez mais o flerte com o cinema ocidental - foram produções americanas, adaptações por americanos e europeus, uso de atores americanos - o que gerou amplo reconhecimento de crítica e mercado do lado de cá - se "lado de cá" ainda fizesse sentido depois dele. Num suposto e datado lado de lá, restaram outros grandes nomes, como Kenji Mizoguchi e Yasujiro Ozu, nunca postos no mainstream, e críticos ferrenhos, que se opunham ao intercâmbio. É no entremeio que ficaram obras como Os Sete Samurais (1954), Dodesukaden (1970) e Ran (1985), entre tantas outras. Onde mais, senão perdidos pelo caminho, poderíamos enxergar as duas margens de um território tão vasto?

Um intérprete de dois mundos


"Kurosawa foi, possivelmente, o cineasta oriental que mais estabeleceu relações com a cultura ocidental", acredita o jornalista, crítico e doutor em cinema pela Sorbonne, Alexandre Figueirôa. "O cinema dele é universal, capaz de ser compreendido em qualquer lugar, isso sem perder os valores intrínsecos à cultura japonesa, seja na maneira de articular narrativas, no cuidado com as composições ou, por exemplo, na forma que adaptou histórias de Dostóievski ou de Shakespeare", reflete.

Foi quando adaptou O Idiota (1951), de Dostóievski, que Kurosawa começava a despontar no Ocidente. Um ano antes, havia realizado Rashomon (1950), filme adaptado de textos literários de Akutagawa Ryunosuke que lhe garantiu o Grande Prêmio do Festival de Veneza e o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Retrato de um assassino dividido entre as visões de quatro personagens, ficou marcado pelo dispositivo narrativo. "Mesmo sendo a adaptação de uma obra literária, o filme estabeleceu um modelo de narração calcado em diversos pontos de vista. Tornou-se um marco", afirma Ernesto Barros, jornalista, crítico e programador de cinema.

Foi também nesta época que o cineasta consolidou a parceria com o ator Toshiro Mifune, com quem trabalhou 16 vezes desde O Anjo Embriagado (1948), incluso o caso de Rashomon. Tudo acontecia ao mesmo tempo: enquanto galgava a internacionalização, Kurosawa se estabelecia como referência e começava a inspirar revisões ocidentais. Rashomon, por exemplo, deu origem a Quatro Confissões, remake dirigido em 1964 por Martin Ritt, estrelado por Paul Newman.

As trocas iam e vinham em mão dupla. Da cultura clássica, Kurosawa resgatou Shakespeare em Macbeth (Trono Manchado de Sangue, 1957) e Rei Lear (Ran, 1985), esta uma das mais caras obras transformadas em monumento. Enquanto isso, americanaos e europeus traduziam seus filmes em legado, por vezes em westerns que se tornaram clássicos. Os Sete Samurais (1954), filme em que aldeões oprimidos resolvem guerrear por comida, virou Sete Homens e um destino pelas mãos de John Sturges. Já O guarda-costas (1961) deu origem a Por um Punhado de dólares (1964), de Sergio Leone.

Escritor, cineasta e jornalista, Fernando Monteiro, observa o contra-ponto. "O perfil universalista de Kurosawa terminou eclipsando outros nomes japoneses, como Mizoguchi, que considero artisticamente mais interessante. A redenção do Ocidente a Kurosawa se assemelha à que houve a Fellini, que eclipsou outros cineastas italianos, como Valerio Zurlini", diz.

Críticas pela ocidentalização causaram grave depressão no cineasta, que chegou a tentar suicídio. A má fase veio após Dodesukaden (1970), filme que remonta o cotidiano de habitantes de uma favela em Tóquio. Kurosawa passou a ter cada vez mais dificuldade em angariar recursos japoneses, salvo pelo interesse de George Lucas e Francis Ford Coppola, que garantiram a finalização de Ran (1985), um clássico pictórico, e o inseriram de vez na rota da produção em Hollywood.

Em termos artísticos, foram mudanças evudentes, mas não essenciais. "Nos filmes em preto e branco, Kurosawa se concentrava mais em elementos romanescos da narrativa. Após o advento da cor, passa a ter um cuidado com a composição que se realça a cada filme", diz Figueirôa. "Uma obra como Ran ultrapassa qualquer referência na cinematografia mundial: cada figurino, cada detalhe de composição é impecável. Kurosawa trabalhava as cores como um artista, e nem por isso passou a subestimar as tramas", aponta.

Parte de suas obras está sendo relançada no Brasil pela Europa Filmes. Um pack reúne quatro delas (Os sete samurais, 1954, Cão Danado, 1949, Céu e Inferno, 1963 e Sanjuro, 1962), além de Depois da Chuva (1999), roteiro que Kurosawa morreu antes de filmar, realizado por um de seus assistentes, Takashi Koizumi.



de Luís Fernando Moura (lmoura@jc.com.br) e colaboração de Paulo Sérgio Scarpa.

Filmografia Completa de Akira Kurozawa



1999 - Ame Agaru (Depois da Chuva, direção de Takashi Koizumi sobre roteiro de Shugoro Yamamoto e Akira Kurosawa)
1993 - Madadayo (Ainda não!) R$ 45,60 na LIVRARIA CULTURA
1991 - Hachi-gatsu no kyôshikyoku (Rapsódia em Agosto) - R$ 14,40 na LIVRARIA CULTURA
1990 - Yume (Sonhos) - R$ 22,40 na LIVRARIA CULTURA
1985 - Ran (Os Senhores da Guerra) - R$ 19,90 na LIVRARIA CULTURA
1980 - Kagemusha (A Sombra de um Samurai) - R$ 22,40 na LIVRARIA CULTURA
1975 - Dersu Uzala (A Águia das Estepes) - R$ 45,60 na LIVRARIA CULTURA
1970 - Dodesukaden (O Caminho da Vida) - R$ 45,60 na LIVRARIA CULTURA
1965 - Akahige - (O Barba Ruiva) - R$ 45,60 na LIVRARIA CULTURA
1963 - Tengoku to jigoku (Céu e Inferno) - R$ 29,60 na LIVRARIA CULTURA
1962 - Tsubaki Sanjûrô (Sanjuro) - R$ 29,60 na LIVRARIA CULTURA
1961 - Yojimbo (O Guarda-Costas) - R$ 45,60 na LIVRARIA CULTURA
1960 - Duelo Silencioso - R$ 45,60 na LIVRARIA CULTURA
1960 - Warui yatsu hodo yoku nemuru (Homen mau dorme bem) - R$ 39,76 na LIVRARIA CULTURA
1958 - Kakushi toride no san akunin (A Fortaleza Escondida) - R$ 45,60 na LIVRARIA CULTURA
1957 - Donzoko (Ralé) - R$ 45,60 na LIVRARIA CULTURA
1957 - Kumonosu-jo (Trono Manchado de Sangue) - R$ 45,60 na LIVRARIA CULTURA
1955 - Ikimono no kiroku (Vivo no Medo)- R$ 45,60 na LIVRARIA CULTURA
1955 - Anatomia do Medo - R$ 45,60 na LIVRARIA CULTURA
1954 - Shichinin no samurai (Os Sete Samurais)
1952 - Ikiru (Viver) - R$ 45,60 na LIVRARIA CULTURA
1951 - Hakuchi (O Idiota) - R$ 54,40 na LIVRARIA CULTURA
1950 - Rashomon (Às Portas do Inferno) - R$ 45,60 na LIVRARIA CULTURA
1950 - Shubun (O Escândalo) - R$ 54,40 na LIVRARIA CULTURA
1949 - Nora Inu (Cão Danado) - R$ 29,60 na LIVRARIA CULTURA
1949 - Shizukanaru ketto (Duelo Silencioso)
1948 - Yoidore tenshi (O Anjo Embriagado) - R$ 39,44 com o +cultura na LIVRARIA CULTURA
1947 - Subarashiki nichiyobi
1946 - Waga seishun ni kuinashi (Não Lamento Minha Juventude)
1946 - Asu o tsukuru hitobito
1945 - Tora no o wo fumu otokotachi
1945 - Zoku Sugata Sanshiro
1944 - Ichiban utsukushiku
1943 - Sugata sanshiro (A Saga do Judô)

quarta-feira, 24 de março de 2010

Pode chorar Cabral!, por Rafaela Torres Galindo.



Estou de saco cheio de toda essa polêmica!

Após a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 387, de autoria dos deputados Ibsen Pinheiro (PSDB/RS) e Humberto Souto (PPS/MG), que divide os royalties do petróleo da camada pré-sal de forma igualitária entre estados e municípios, travou-se no País uma grande fuzarca que promete estender o embate até o período eleitoral. O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), tenta evitar um colapso administrativo e econômico no estado, que poderá refletir, também, num desastre eleitoral este ano.
Para isso, Cabral teve que chorar pelo petróleo derramado, durante um evento na Pontifícia Universidade Católica (PUC) do estado. O choro parece que não comoveu muito e as opiniões estão se dividindo em progressão exponencial. A única esperança do governador seria o veto de Lula, entretanto, o presidente jogou um balde de água fria em Cabral ao declarar que “não ter nada a ver com isso”, alegando também o fato de que “seria melhor aguardar as eleições para discutir sobre a partilha”.
Não precisa ser muito inteligente para entender que, só através de uma reforma na distribuição de tributos, o Brasil seria capaz de sanar as desigualdades regionais existentes e acabar com esse dilema. No entanto, o governo mandou as propostas de mudanças da lei do petróleo em caráter de urgência. Isso significa que o Senado tem 45 dias para resolver a questão. O grande dilema gira em torno de que, isso tudo caberia em uma reforma tributária mais ampla, mas que nunca foi feita, apenas debatida.
É difícil tragar, no caso do pré-sal, a norma em vigor para o pagamento dos royalties que privilegia os estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo e São Paulo. Esse modelo foi criado, na realidade, em 1986, com a Lei n° 7.525, que na época, visava beneficiar os municípios detentores da riqueza explorada. É verdade sim que a medida é um absurdo! Afinal, os recursos financeiros do produto explorado, independente da localização, dizem respeito à riqueza da União, da Nação como um todo, e não merece ser fatiado em um processo de hierarquização de bens estaduais.
A bancada fluminense no Congresso estuda apresentar uma proposta em que os estados produtores ficariam com 11% da partilha e os demais municípios com 9%. No entanto, a medida não será aprovada tão facilmente. Afinal, um senador da Bahia abdicaria de beneficiar seu próprio estado para abrir as pernas para o Rio? Impossível!
Inconstitucional ou não, a hegemonia liderada pelos três estados tem de chegar ao fim. O Brasil clama por mais recursos financeiros distribuídos em prol da melhoria populacional. Entendo a posição de Cabral, pois como já diria George Bataille “todo homem quer ser tudo”, e ele até que tentou... dramatizou, chorou, mobilizou os fluminenses na passeata Contra a covardia, em defesa do Rio, mas se depender do Senado, acredito eu, que a partilha igualitária deve prevalecer e para Cabral resta chorar pelo petróleo derramado. E só!

O Carnaval do Arlequim, de Miró

Se os Nardoni são inocentes, então a Justiça é culpada!

Água poluída mata mais que violência no mundo, diz ONU


A população mundial está poluindo os rios e oceanos com o despejo de milhões de toneladas de resíduos sólidos por dia, envenenando a vida marinha e espalhando doenças que matam milhões de crianças todo ano, disse a ONU nesta segunda-feira (22/03).

"A quantidade de água suja significa que mais pessoas morrem hoje por causa da água poluída e contaminada do que por todas as formas de violência, inclusive as guerras", disse o Programa do Meio Ambiente das Nações Unidas (Unep, na sigla em inglês).

Em um relatório intitulado Água Doente, lançado para o Dia Mundial da Água nessa segunda-feira, o Unep afirmou que dois milhões de toneladas de resíduos, que contaminam cerca de dois bilhões de toneladas de água diariamente, causaram gigantescas "zonas mortas", sufocando recifes de corais e peixes.

O resíduo é composto, principalmente, de esgoto, poluição industrial e pesticidas agrícolas e resíduos animais.

Segundo o relatório, a falta de água limpa mata, anualmente, 1,8 milhão de crianças com menos de cinco anos de idade. Grande parte do despejo de resíduos acontece nos países em desenvolvimento, que lançam 90% da água de esgoto sem tratamento.

A diarreia, principalmente causada pela água suja, mata cerca de 2,2 milhões de pessoas ao ano, segundo o relatório, e "mais de metade dos leitos de hospital no mundo é ocupada por pessoas com doenças ligadas à água contaminada".

O relatório recomenda sistemas de reciclagem de água e projetos multimilionários para tratamento de esgoto.

Também sugere a proteção de áreas de terras úmidas, que agem como processadores naturais do esgoto, e o uso de dejetos animais como fertilizantes.

"Se o mundo pretende sobreviver em um planeta de seis bilhões de pessoas, caminhando para mais de nove bilhões em 2050, precisamos nos tornar mais inteligentes sobre a administração de água de esgoto", disse o diretor da Unep, Achim Steiner. "O esgoto está, literalmente, matando pessoas".

da Reuters, em Abidjan

segunda-feira, 22 de março de 2010

Quem quer pizza?, por Rafaela Torres Galindo


Pelo visto, a campanha dos fichas-limpas vai tardar, como já era previsto, a ser aprovada. Infelizmente, mesmo tendo recolhido 1,6 milhões de assinaturas, o projeto corre sério risco de não entrar na pauta de votação da Câmara, a tempo de ser validado para as eleições deste ano. É muito simples o que acontece, basta entender que estamos no Brasil, e aqui, como é de praxe, tudo acaba em pizza. Em reunião marcada para esta terça-feira, o presidente da Câmara, Michel Temer, disse que pedirá apoio dos parlamentares junto às bancadas. O mais interessante é que a matéria estará pronta para ser examinada no plenário na semana após a Páscoa. Somente, na semana APÓS a Páscoa, claro! Antes, não dá gente.

De acordo com Temer, o projeto poderá ser aprovado, pois “o texto melhorou bastante”. Agora, o registro será negado se houver alguma condenação, em primeira ou segunda instância, mas desde que imposta por um colegiado e não por um único juiz. Ainda de acordo com o presidente, a medida serve para evitar perseguições políticas. Mas é claro! Afinal, os entranhados nessa malha de corrupção temem perder a herança dos cargos eletivos, que, hoje, virou hereditário. Quantos Coelhos não estão no poder? Quantos Lacerda? Uchoa, Costa, Guerra e os Sarneyzinhos? Tão bonitinhos... todos enfeitados de atos secretos, que, na maioria das vezes, quase todos dizem desconhecer.

Diante deste cenário, tenho a impressão de que os políticos vivem em um mundo a parte do nosso. Com suas próprias leis, orbitando entre os milhões dentro de cuecas, meias e bolsas e carteiras da Louis Vuitton. Para começar, político no Brasil, só tem amigo doleiro, lobista e empreiteiro. É uma propina cá, um cartão corporativo pra lá, um escandalozinho da farra das passagens aéreas, e para apimentar e instigar nossos ânimos, que tal um mensalão para nos deixar ainda mais vidrados nesse reality show da pornopolítica brasileira?

Outra coisa que me chama atenção são as faces, por vezes tão inatuais dos nossos politiqueiros. Quem não se lembra do semblante de Roberto Jefferson durante a CPI do mensalão? Suado? Não, não! Nem um pouco... e quem não se lembra, também, da célebre frase: “Dirceu, você desperta em mim os instintos mais primitivos”. AAAh perae gente! Isso é digno de palmas! Lindo! Pra nós, brasileiros comuns, eu só tenho a lamentar, não fazemos parte dessa realidade. E a campanha dos ficha-sujíssimas, ao meu ver, parece que irá permanecer no vácuo, quando não, irá depender das iniciativas do nosso sistema Judiciário vegetativo.

domingo, 21 de março de 2010

Opinião Pública já era!, de Rafaela Torres Galindo


Sempre tive inveja de Lula. Sempre cobicei, imoderadamente, o seu eufemismo que, por vezes, soa tão bem aos ouvidos do populacho. Mas, desta vez, nosso “Hermes” brasileiro parece ter cambaleado ao comparar os presos políticos de Cuba a bandidos comuns, ou dizer que greve de fome não é pretexto para liberação de presos, em referência aos protestos de perseguidos políticos no País. A questão é muito simples. Os jovens de hoje e a opinião pública parecem não entender que é difícil para a geração de Lula falar mal dos Castro, condenar os fuzilamentos, as burrices que andam fazendo, porque Cuba, afinal, era tudo. O Lula, na realidade, é um nostálgico, isso mesmo, em nenhum momento ele se arrependeu de suas declarações, pelo contrário, a sua mente impregnou a lívida lembrança de um bando de garotos barbudos, lindos, com metralhadoras na mão, tomando a ilha, expulsando o ditador e fundando o socialismo, sonho máximo de generosidade.

Dizem que Lula e a candidata a sucessão do trono, ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, foram presos políticos no Brasil. Mas me digam o que isso importa agora? E dái? Isso tudo faz parte do passado, acreditem. Hoje não são mais do que meras lembranças de um ex-pobre, sindicalista e caboclo. O Lula anda de jatinho, ganha prêmios e é condecorado em países mundo a fora. O presidente é o cara. Acreditem! Em suas últimas declarações, Luís Inácio Lula da Silva defendeu que seu colega iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, e o regime dos aiatolás não PODEM ser comparados a Adolf Hitler. É isso mesmo! Para quem beijou a mão de Jader Barbalho, sim, aquele mesmo que foi pego acusado de formação de quadrilha e de desviar verbas da antiga Sudam (Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia) qualquer afirmação que seja feita, é de se esperar e, ainda mais, de se louvar. A popularidade do presidente desmistifica qualquer certeza de realidade. Afinal, se 80% da população brasileira o admira, quem é a opinião pública para falar alguma coisa?

Os Fuzilamentos de três de maio, Goya

quinta-feira, 18 de março de 2010

Noel Rosa, o Poeta da Vila, tem repertório revisitado na festa dos Caranguejos Antenados



Quem marcar presença na festa dos Caranguejos Antenados conhecerá grandes obras do mestre Noel Rosa. Nascido no Rio de Janeiro, em 11 de dezembro de 1910, o Poeta da Vila, como era conhecido, foi um dos maiores e mais importantes artistas da música no Brasil.

Sambista, cantor, compositor, bandolinista e violinista, Noel de Medeiros Rosa, através do rádio, principal meio de comunicação da época, deu contribuição fundamental na legitimação do samba de morro no “asfalto”. Em menos de dez anos de carreira, o Poeta da Vila criou uma incontável quantidade de músicas, muitas delas, atualmente, clássicos do samba de raiz.

Na celebração dos Caranguejos Antenados, o público poderá conferir clássicos do vanguardista, em suas gravações originais, como Com que Roupa (1929), Gago Apaixonado (1930), Onde Está a Honestidade (1933), Filosofia (1935), Palpite Infeliz (1935), além de vários outros clássicos que marcaram a introdução e a fusão do samba na cultura brasileira. Noel morreu no dia 4 de maio, em 1937, vítima da tuberculose.

A Tentação de Santo Antônio, de Dalí

Agenda Cultural

Sexta-feira (19) - Apresentação gratuita das bandas Semente de Vulcão e Elementos, às 22h, na Casa da Moeda.

Sábado (20) - Show com as bandas Tacape e Mandala, às 23h, no N.A.V.E. Ingressos R$ 7.

Vamos Todo Poderoso Timão!!!


Valeu Timão! Ao contrário de muitos comentaristas que não entendem nada de futebol e ainda se arriscam a dar palpites infundados, afirmo que o Corinthians tem hoje o melhor elenco, sim, e a melhor disposição tática do país. Concordo com o Mano Menezes ao afirmar que o Todo Poderoso tem que melhorar muito mais. Melhorar para dominar de vez o ranking dos melhores times do Brasil e papar a tríplice coroa. Ontem, na vitória fora de casa contra o Cerro Porteño, do Paraguai, foi dado mais um passo para a ascensão que todos esperam da equipe em 2010, no ano do centenário do campeão dos campeões.

A equipe do Paraguai conheceu a força da nação corintiana, que invadiu o Defensores del Charco para empurrar o Corinthians na conquista do seu maior objetivo, a Taça Libertadores da América. A marcação foi a marca do jogo. O Corinthians definitivamente não deixou o Cerro Porteño jogar. Com três volantes, Ralf, Jucilei e Elias, a falta de criatividade dos jogadores paraguaios esbarraram na marcação forte do timaço e inviabilizaram qualquer jogada que provocasse algum perigo para a meta do goleiro Felipe.

Com o oportunismo do atacante Ronaldo, que deixou o dele após cinco partidas sem marcar, o Corinthians sai do Paraguai líder, invicto e com a melhor campanha dos times brasileiros até aqui. Vale frisar que com a equipe que Mano possui em mãos, realmente precisa-se melhorar bastante, já que o Timão vive de títulos. Diferentemente dos outros treinadores, como o Dorival Jr., do Santos, que acha que seu time é o melhor do mundo porque tem ganho de times como o Naviraiense. Quero ver quando nos batermos nas semi-finais do paulistão, se vai dar R9 ou o menino mais menino do que nunca, Neymar.

sexta-feira, 5 de março de 2010

A Paraíba fica na Rua do Lima

A arte contemporânea paraibana está fincando terreno na Rua do Lima. Primeiro foi Thiago Verdee, que expôs na inauguração do Espaço Muda, em janeiro. Depois veio Shiko, atualmente em cartaz no mesmo lugar. E agora, coincidência ou não, é a vez de Thiago Trapo, também de João Pessoa, mostrar a cara no Núcleo de Artes Visuais e Experimento - Nave. A exposição de Trapo tem abertura hoje no local, às 20h, sob o título de Tropical 2d.
A exposição de Trapo, 24, foi praticamente toda elaborada para o Nave. São oito pinturas, um objeto/instalação e um painel de parede, trabalhos que abusam do colorido e de materiais reaproveitados, como pedaço de madeira encontrada em terreno baldio. É evidente o diálogo de Trapo com a street art, embora ele não goste de se definir como artista de rua. De fato, ele não é. Não mais. Na adolescência, chegou a pichar muro. E foi nessa época que ganhou o apelido de Trapo. Hoje ele aceita que o grafite que está se fazendo atualmente é muito institucionalizado e publicitário. De toda forma, a relação estética está lá. O painel sobre a parede (2,30m x 6m, técnica mista), intitulado Da Maquinaria Humana, é uma identificação direta disso. Mas é possível observar também um resquício de pichação nos símbolos espalhados pela obra.