Acompanhei com fervor o escândalo do mensalão do Democratas. Agora, a última novidade ocorreu nesta segunda-feira, com o protagonista do mensalão, José Roberto Arruda (sem partido), usando o direito (permitido pela Constituição brocha) de ficar calado, com o intuito de não responder o questionário da Polícia Federal (PF) sobre o esquema de corrupção do Distrito Federal. Por orientação do advogado Nélio Machado, Arruda afirmou que só vai falar quando tiver acesso a todos os documentos do inquérito. Só assim, temos ideia de como é frágil a nossa Constituição que, muitas vezes, serve de estirpe para abrigar corruptos narcisistas, numa profusão de caras, gestos, fatos, dinheiro, cuecas e meias em nossa consciência política.
Dos 11 convocados, apenas três se dispuseram a falar à PF, o ex-presidente da Câmara Legislativa, Leonardo Prudente, o ex-secretário de Educação, José Luís Valente e o empresário (empreiteiro), Alcyr Collaço, que também aparece nas filmagens. Já a principal testemunha do esquema, Durval Barbosa, conseguiu, no Tribunal de Justiça do Distrito Federal, um habeas corpus para se manter em silêncio na reunião da CPI da Corrupção da Câmara Legislativa, ocorrida na última terça-feira. O ex-secretário de Comunicação, Welligton Morais, preso há mais de 45 dias no Complexo Penitenciário da Papuda, também preferiu permanecer calado durante o depoimento realizado ontem. A mesma estratégia foi utilizada pelo ex-vice governador, Paulo Octavio, na semana passada, quando se apresentou “espontaneamente” à PF.
A pocilga que afundou Arruda no lamaçal da baixaria e da corrupção não arrancou de Lula nem mesmo uma palavra de indignação. “Imagem não quer dizer tudo”. Pois é! Esse tipo de psicopatia política nem mesmo Freud ousaria explicar, ou quem sabe a resposta não está nos 76% do índice de popularidade do presidente que desbanca qualquer certeza de realidade? A nossa única convicção é a de que o pragmatismo corroeu a ética da política brasileira. É tudo tão técnico que facilmente pode ser desviado nas lacunas deixadas pela Constituição. É por essas e outras, que ainda existe gente querendo defender ladrão de paletó e gravata. Nélio Machado, por exemplo, aproveitou-se da situação e já encaminhou um novo pedido ao STJ para que o ex-governador seja solto.
Mesmo com as verdades mais cristalinas, a sol à pino, os nossos politiqueiros insistem em se refugiar através das desculpas mais estaparfúdias. No caso de Arruda, os panetones. Aaaah os panetones! Para sustentar a versão de que a quantia de R$ 50 mil, recebida em 2006, era uma contribuição para a compra de panetones, Arruda montou uma licitação, no mesmo dia em que a PF deflagrou a Operação Caixa de Pandora. Já está mais do que na hora, de nós brasileiros repensarmos nessas situações que abusam da nossa inteligência e paciência. A política, definitivamente, não pode ser alimentada por meio do pão e circo. Dessa maneira, seria querer justificar os fins pelos meios. E esse sistema cabia, sim, em séculos passados, mas não em um País como o nosso. Por mais frágil que seja a democracia, nós temos que gritar: PEGA LADRÃO! Porque do jeito que vai, simplesmente não dá!
terça-feira, 30 de março de 2010
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