sábado, 3 de setembro de 2011

Minha grande ternura, Manuel Bandeira

Minha grande ternura
Pelos passarinhos mortos;
Pelas pequeninas aranhas.

Minha grande ternura
Pelas mulheres que foram
meninas bonitas
E ficaram mulheres feias;
Pelas mulheres que foram
desejáveis
E deixaram de o ser.
Pelas mulheres que me amaram
E que eu não pude amar.

Minha grande ternura
Pelos poemas que
Não consegui realizar.

Minha grande ternura
Pelas amadas que
Envelheceram sem maldade.

Minha grande ternura
Pelas gotas de orvalho que
São o único enfeite de um
túmulo.

Manuel Bandeira (1886-1968)

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