sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Papai Noel, um ícone cultural nascido no século IV


O simpático velhinho de roupa vermelha e barba branca, que vemos nestes dias com destaque em centros comerciais de todo o mundo, tornou-se um ícone cultural da sociedade de consumo do terceiro milênio.

Apesar de ter se inspirado em um bispo que viveu no século IV da nossa era, o sorridente personagem que encanta as crianças foi construído nos últimos 17 séculos com elementos de mitos de diversas regiões e países.

O personagem original foi bispo da cidade de Mira, no antigo reino de Lícia - na atual Turquia - de nome Nicolau, célebre pela generosidade com crianças e pobres, mas que, mesmo assim, foi perseguido e preso pelo imperador Diocleciano.

Com a chegada de Constantino ao trono de Bizâncio, o bispo Nicolau foi libertado e pôde participar do Concílio de Nicéia (325). Após a sua morte, foi canonizado pela Igreja Católica como São Nicolau. Surgiram, então, incontáveis histórias de milagres realizados pelo santo em benefício de pobres e desamparados.

Nos primeiros séculos após sua morte, São Nicolau tornou-se padroeiro da Rússia e Grécia, bem como de inúmeras sociedades beneficentes e das crianças, jovens solteiras, marinheiros, mercadores e prestamistas.

A partir do século VI, foram erguidas várias igrejas dedicadas ao santo, mas essa tendência foi interrompida com a Reforma, quando o culto a São Nicolau desapareceu da Europa protestante, com exceção da Holanda, onde era chamado de Sinterklaas.

Na Holanda, a lenda do Sinterklaas fundiu-se a antigas histórias nórdicas sobre um mago mítico que andava em um trenó puxado por renas, premiava com presentes as crianças boas e castigava as que se comportavam mal. No século XI, mercadores italianos que passavam por Mira roubaram relíquias de São Nicolau e as levaram para Bari.

A partir daí, essa cidade italiana onde o santo jamais colocou os pés tornou-se um centro de devoção e peregrinação.

No século XVII, emigrantes holandeses levaram a tradição de Sinterklaas para os Estados Unidos, cujos habitantes adaptaram o nome para Santa Claus, mais fácil de ser pronunciado, e criaram uma nova lenda, consolidada no século XIX, sobre um velhinho alegre e bonachão que percorria o mundo em seu trenó no Natal, distribuindo presentes.

Enquanto nos Estados Unidos ele era conhecido como Santa Claus, do outro lado do Atlântico, no Reino Unido, chamava-se Father Christmas (Papai Noel). Com um nome ou outro, o certo é que o personagem baseado no bispo Nicolau tornou-se rapidamente o símbolo do Natal - estimulando as fantasias infantis - e, principalmente, ícone do comércio de presentes de Natal, que movimenta anualmente bilhões de dólares.

A tradição não demorou a cruzar novamente o Atlântico, dessa vez renovada, e se espalhar para vários países europeus, em alguns dos quais Santa Claus mudou de nome. Na França, o Father Christmas dos ingleses foi traduzido para Père Noël, na Espanha para Papá Noel e em Portugal para Pai Natal, espalhando-se rapidamente pela América Latina.

Dizem ainda que o visual moderno do Papai Noel (roupas vermelhas e gorro com barrete branco) teria sido uma invenção da Coca-Cola, que nos anos 30 promoveu uma campanha repaginando o Bom Velhinho com as cores oficiais de seu produto.

Fonte: AFP

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Guqin, refino para a classe erudita chinesa


Quando a China reunificada sob o domínio da dinastia Song (960-1279), a influência de administradores civis bem-educados foi estimulada. A impressão melhorou com a invenção dos tipos móveis em 1040, o que ajudou na produção e na divulgação de textos.


A erudição era muito admirada entre as camadas mais altas da sociedade e o povo, e o mecenato e as artes floresceram, mas nem sempre por altruísmo. Imperadores e oficiais, sempre preocupados com as ameaças do norte, ansiavam por encomendar obras que retratassem precedentes antigos que justificassem sua autoridade.

Imperadores como Huizong (1100-1126) se orgulhavam de seus talentos como calígrafo, músico ou pintor, e algumas das obras por eles criadas sobreviveram. Na pintura em seda de Huizong intitulada Ouvindo Qin, o imperador toca guqin, um instrumento musical de sete cordas.

Apreciar a música do qin em meio a uma bela paisagem era considerada uma atividade apropriadamente refinada para a classe governante erudita da dinastia Song, e o interesse pelo qin continua a ter uma importância social na China de hoje.

sábado, 8 de outubro de 2011

A louca, de Augusto dos Anjos (1884-1914)


A Dias Paredes

Quando ela passa: - a veste
desgrenhada,
O cabelo revolto em desalinho,
No seu olhar feroz eu adivinho
O mistério da dor que a traz
penada.

Moça, tão moça e já
desventurada;
Da desdita ferida pelo espinho,
Vai morta em vida assim pelo
caminho,
No sudário de mágoa sepultada.

Eu sei a sua história. – Em seu
passado
Houve um drama d’amor
misterioso
- O segredo d’um peito
torturado –

E hoje, para guardar a mágoa
oculta,
Canta, soluça – coração
saudoso,
Chora, garganta, a desgraçada
estulta.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Fundação de Cultura abre inscrições para o 1º Seminário do Cangaço

A Fundação de Cultura Cidade do Recife abre as inscrições para o 1º Seminário do Cangaço do Recife, nesta segunda-feira (03) até o dia 21 de outubro. Os interessados devem ir a sede da Gerência, localizada na sala 22, 6° andar do edifício-sede da Prefeitura do Recife, Bairro do Recife, para efetuar a inscrição. Serão oferecidas 150 vagas.

O 1º Seminário do Cangaço do Recife vai acontecer nos dias 25 e 26 de outubro, na Livraria Cultura e contará com as presenças de Expedita e Vera Ferreira, respectivamente filha e neta de Lampião e Maria Bonita. Serão abordados temas como, a presença da mulher no cangaço; o cangaço e a literatura; a estética do cangaço; história e memória do cangaço; entre outros.

Oficina de grafitagem leva arte dos jovens de Santo Amaro às ruas

A Prefeitura do Recife inicia, na tarde desta quinta-feira (29), às 14h, no Centro da Juventude de Santo Amaro, localizado na Avenida Norte, 869, mais uma atividade do projeto Inserção Multicultural da Linguagem das Artes do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci). Cerca de 20 jovens com idades entre 16 e 29 anos participam de uma ação de grafitagem no viaduto Presidente Médici, na avenida Norte.

O trabalho faz parte da oficina do projeto e será inspirada nos seis eixos do Plano Nacional dos Direito Humanos. O término da grafitagem está previsto para o dia 14 de outubro. A coordenadora do projeto, Maria de Fátima, afirma que esta é uma grande oportunidade de inserção social e transformação de vida. “Esses jovens estão tendo oportunidade de aprender e se descobrir, através da arte”.

Histórias de casarões do bairro da Madalena serão detalhadas em passeio gratuito

A história do bairro da Madalena e as pontes do subúrbio serão o tema do próximo roteiro do programa ′Conheça o Recife`, que será realizado neste sábado (1º), com saída marcada para às 14h da Praça do Arsenal. O passeio vai contemplar os casarões da Rua Benfica, residência dos barões do açúcar do século XIX, e visitará o Mercado da Madalena, que já foi conhecido como mercado do Bacurau, por funcionar no período noturno.

Também fazem parte do roteiro, as Pontes Joaquim Cardoso, Joana Bezerra, Gregório Bezerra, Estácio Coimbra, Lima de Castro, Professor Morais Rego, conhecida como Capunga, da Torre e Torre Parnamirim. O passeio também contemplará o Museu da Abolição, conhecido como sobrado da Madalena.

Na Rua Benfica, serão destacados o batalhão Mathias de Albuquerque, um dos mais antigos do Brasil, a Pensão Lady, prédio em estilo árabe onde pessoas famosas se hospedavam, sala Baltazar da Câmara, que fica no Centro Cultural Benfica, e a Praça Euclides da Cunha, projeto de Burle Marx que abriga uma escultura de Abelardo da Hora intitulada “O Sertanejo”.

O `Conheça o Recife` é realizado pela prefeitura do Recife e é gratuito. No entanto, os interessados devem se inscrever através do telefone 3355-8847 e no dia do passeio levar um pacote de leite para ser doado ao Núcleo de Apoio aos Idosos.

Rir ajuda a enfrentar a dor, diz estudo

Compartilhar uma sonora gargalhada com amigos pode ajudar a amenizar a dor, graças a uma série de substâncias químicas similares aos opiáceos que invadem o cérebro quando se dá uma risada, revelou um estudo britânico publicado no periódico Proceedings of the Royal Society B, da Academia de Ciências da Grã-Bretanha.

Nos experimentos feitos em laboratórios, os voluntários assistiam ora a clipes de comédia das séries Mr. Bean ou Friends, ora a trechos de programas não humorísticos, como uma partida de golfe ou programas sobre a vida selvagem. Enquanto isso, a resistência à dor dos participantes era monitorada pelos cientistas britânicos.

Em outro teste, realizado no Festival Fringe, de Edimburgo — evento anual que inclui apresentações de comédia, dança, teatro e música —, voluntários assistiram alternadamente a um número de comédia stand-up e a um drama teatral. Em condições de laboratório, a dor foi provocada por gelo em contato com o braço dos voluntários e por um medidor de pressão que comprimiu o punho até o limite do suportável.


No Festival Fringe, pediu-se aos voluntários que se inclinassem contra um muro com as pernas em ângulo reto, como se fossem se sentar em uma cadeira de encosto reto, antes e imediatamente depois do show para ver se o riso havia ajudado a reduzir a dor. De acordo com o estudo, apenas 15 minutos de risadas aumentaram o nível de tolerância à dor em cerca de 10%.

Nas experiências laboratoriais, a programação não humorística na televisão não demonstrou ter qualquer efeito de aliviar a dor, mesmo resultado (ou falta de) obtido ao se assistir a uma peça dramática no festival em Edimburgo.

O que funciona O estudo demonstrou, no entanto, duas importantes distinções. O único riso que funcionou foi aquele relaxado, não forçado, que faz os olhos apertarem, ao contrário do riso nervoso ou polido. Esse tipo de riso é muito mais provável de acontecer quando se está na companhia de outras pessoas do que sozinho. “Poucas pesquisas têm sido feitas sobre por que rimos e qual o papel do riso na sociedade”, afirmou o diretor do Instituto de Antropologia Social e Cultural da Universidade de Oxford, Robin Dunbar. “Usando microfones, conseguimos gravar cada um dos participantes e descobrimos que em um show cômico eles riram por cerca de um terço do tempo e sua tolerância à dor aumentou como consequência”, acrescentou.

Essa proteção derivou-se, aparentemente, da endorfina, uma substância química complexa que ajuda a transmitir mensagens entre os neurônios, mas também atenua os sinais de dor física e estresse psicológico. As endorfinas são um produto famoso dos exercícios físicos. Elas ajudam a gerar o bem-estar que se segue à prática de atividades como corrida, natação, remo, ioga etc.

No caso do riso, os cientistas acreditam que a liberação da substância ocorra devido a um esforço muscular repetido e involuntário que se dá quando a expiração não é seguida da tomada de fôlego. Exalar deixa as pessoas exaustas e, consequentemente, leva à liberação das endorfinas.

Depois do feijão transgênico, arroz híbrido do Brasil ganha impulso

Depois do feijão transgênico, cuja comercialização foi aprovada pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança no último dia 15, o arroz híbrido brasileiro ganhou um impulso. A Bayer CropScience anunciou nesta quarta-feira a compra dos direitos exclusivos de licença do programa de melhoramento Fazenda Ana Paula, especializada no desenvolvimento deste arroz. A empresa não divulgou os valores do acordo.

"O segmento de arroz híbrido desempenhará um papel importante no que diz respeito ao atendimento da crescente demanda global por produção de arroz de aproximadamente metade da população do mundo. Já temos a liderança mundial em sementes de arroz híbrido com o Arize® e pretendemos aumentar ainda mais os nossos híbridos – com genética superior e uma operação de sementes híbridas de primeira classe", disse Mathias Kremer, head global da unidade de negócios de BioScience da Bayer CropScience, em nota divulgada pela empresa.

Plantas transgênicas são diferentes de híbridas. O engenheiro agrônomo Marcelo Gravina, professor associado da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e conselheiro do Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB), explica que a transgênica recebe material genético de espécies diferentes.

"A planta híbrida é aquela que resulta do cruzamento entre indivíduos pertencentes a duas linhas puras fenotipicamente (características físicas determinadas pelos genes e pelas condições ambientais) diferentes. Esse cruzamento pode ser por fecundação natural pelo vento ou por insetos ou ainda ela intervenção do homem através de fertilização artificial. Uma planta transgênica ou geneticamente modificada é uma aquela que contém um gene que foi inserido através da transformação genética, ao invés de adquirido naturalmente por polinização. O gene inserido, conhecido como "transgene", pode vir de outra planta ou mesmo de outra espécie completamente diferente", disse Gravina.

Os invisíveis na Bienal do Livro

Amanhã, sexta-feira, às 18 horas, no Círculo das Ideias (Bienal do Livro de Pernambuco), o escritor Luiz Ruffato conversa comigo sobre um tema bem instigante: "Os Invisíveis – A Prosa Proletária na Literatura Brasileira". Não se trata de panfletarismo, mas da constatação de que a arraia miúda (operários, trabalhadores urbanos, pequenos funcionários, biscateiros, manicures, motobóis etc etc) são não apenas socialmente invisíveis (como diria Bandeira, gente que não deixa o nome numa lápide), mas também literariamente. E eu me pergunto: que literatura é esta indiferente à maioria esmagadora de nossa gente? Onde estão nossos Charles Dickens, nossos Balzac, nossos Dostoiévski, nossos Zola? Eles existem, claro, de Lima Barreto a Gilvan Lemos, passando por Pagu, Dyonélio Machado, Roniwalter Jatobá e mais outros, mas são poucos. Entre eles, o próprio Ruffato – um dos escritores contemporâneos que mais admiro, não apenas pela qualidade estética de sua obra (de linguagem inovadora e experimental), mas por dar voz aos anônimos e invisíveis. Ruffato consegue uma bela simbiose forma-conteúdo, ao mesmo tempo em que nos comove com o grande painel que sua literatura faz da gente comum, sem paternalismos, demagogias ou concessões. A vida, como ela é, pulsa na obra de Ruffato e isso não é pouca coisa.

A obra de Ruffato compõe-se das coletâneas de contos Histórias de Remorsos e Rancores (1998) e Os Sobreviventes (2000), e dos romances Eles Eram Muito Cavalos (2001), ganhador dos prêmios APCA - Associação Paulista de Críticos de Arte e Machado de Assis da Fundação Biblioteca Nacional e editado na Itália, França e Portugal; e da série O Inferno Provisório (verdadeira saga nacional), com os títulos Mamma, Son Tanto Felice, O Mundo Inimigo , Vista Parcial da Noite e O livro das Impossibilidades, a ser concluída este ano com o último título, além do delicioso Estive em Lisboa e Lembrei de Você (2009), da coleção Amores Expressos da Companhia das Letras.

Então, quem gosta de boa literatura e professa que tudo que é humano lhe interessa sinta-se convidado.

Lula doa prêmio de US$ 100 mil a país africano



Ao receber nesta quinta-feira (29) o prêmio Lech Walesa, na Polônia, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou que decidiu doar os US$ 100 mil a um país africano. O país que receberá o valor será escolhido pelos diretores do Instituto Lula e pelos membros da fundação criada por Walesa. Lula também se encontrou em Gdansk com o sindicalista e ex-presidente polonês.

Walesa, que recebeu o Prêmio Nobel da Paz, lembrou que quando conheceu Lula, em 1980, acreditou que estavam em caminhos diferentes. "Deixamos o comunismo e o senhor queria introduzir o socialismo. Parecia que estávamos em caminhos opostos, pois parecia não haver terceira via", comentou. "O senhor não tinha razão há 30 anos, mas hoje mostrou que tinha razão."

O primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, disse que Lula e Walesa fizeram mudanças radicais sem promover o caos em seus países. Para Tusk, os dois líderes promoveram o crescimento econômico e o bem-estar para as populações.

O prêmio Lech Walesa foi criado em 2008 pela fundação do ex-presidente polonês para reconhecer personalidades destacadas por seu apoio à liberdade, democracia e cooperação internacional. A fundação informou em nota que Lula foi escolhido "em reconhecimento por seus esforços para conseguir uma cooperação pacífica e a compreensão entre as nações, especialmente para reforçar o papel dos países em desenvolvimento no mundo dos negócios, e por sua contribuição para reduzir a desigualdade social".

Consultório: Alimentos detergentes são responsáveis pela limpeza dos dentes

O Consultório desta quinta-feira (29), quadro da TV Jornal, mostra os alimentos detergentes ou adstrigentes. Responsáveis pela limpeza dos dentes, prevenção e combate às cáries, estes alimentos melhoram a digestão e previnem a formação da placa bacteriana. Frutas como maçã, banana, goiaba (desde que não estejam muito maduras) e hortaliças são ideais para ingerir logo após a refeição e contribuir na limpeza e saúde bucal.

Em filme polêmico, diretor mostra lei "absurda" do queijo de minas

O cineasta Helvécio Ratton fez o documentário "O Mineiro e o Queijo", que estreia nesta sexta-feira (30), não apenas por causas políticas. Motivos não o faltaram, já que os queijos artesanais de Minas Gerais --por serem feitos com leite cru-- não podem ser vendidos no resto do país devido a leis higienistas, consideradas obsoletas (datam de 1952), que acabam favorecendo as grandes indústrias de laticínios.

Mineiro criado na região do Serro, Ratton o fez também por causas afetivas, para mostrar que o queijo de minas é não só questão de sobrevivência, mas de identidade cultural. O diretor percorreu fazendas, conversou com produtores e registrou o modo de fazer a iguaria mineira em três regiões do Estado: a Serra da Canastra, o Vale do Paranaíba e a própria região do Serro.

Leia abaixo a entrevista com o diretor do filme:

Guia Folha - O mineiro tem uma ligação afetiva com o queijo. Você inclusive?

Helvécio Ratton - Claro. Eu morei, quando criança, na região do Serro. Eu tinha cerca de cinco anos de idade e me lembro de meus pais irem até as fazendas experimentar os queijos; a gente recebia em casa também, aprendi com minha mãe a cultura do queijo. E na minha casa sempre teve queijo, eu guardei essa relação de afeto com o queijo de minas, de gostar dele. E também de perceber como ele foi --e ainda é-- importante na formação de Minas Gerais, pois ajudou os moradores a se fixarem na terra, e faz isso até hoje.

É falado no filme que o queijo faz parte da identidade cultural, da própria autoestima do mineiro...

Faz parte sim, e os produtores consideram que são guardiões de um saber. Este conhecimento chegou às mãos deles, e eles são respeitados por isso. O pessoal da Serra da Canastra é impressionante, há um personagem do documentário que diz "fazer queijo, pra mim, é uma honra."

Você teve algum problema para conseguir os depoimentos de trechos mais polêmicos do documentário, como os produtores que vendem ilegalmente para São Paulo e o Rio?

Na verdade, eu não tive problema, eu protegi esses produtores. Eles não tinham ideia da gravidade das declarações que estavam me dando. Não coloquei o rosto da pessoa que deu essa declaração, mas ela gravou de cara limpa, sem se preocupar. Eles se abriram muito com a gente por se identificar com o que estávamos fazendo. Eles sabiam que era algo que ia lançar uma luz sobre a situação deles. Mas eles precisavam de proteção, pois o que eles fazem é algo contrário a lei.

E você pretende continuar lutando por essa causa?

Eu quero que eles tomem o filme pra eles. Meu negócio é cinema, o deles é fazer queijo. Eles gostaram muito, os produtores foram à sessão em Belo Horizonte. Era a primeira vez que eles entravam numa sala de cinema, eles estavam fotografando a sala. Não tem mais sala de cinema do interior. Eles estavam loucos, se viram na tela grande, é diferente de se ver no monitor de vídeo.

Pra quem você fez o filme?

Eu queria que, em primeiro lugar, o público visse o filme, pra se informar de uma situação absurda. A primeira condição pra que você possa mudar uma realidade é que as pessoas se informem. E, em um segundo momento, que as autoridades vejam o filme e respondam aos questionamentos que são feitos. O documentário tem uma proposta dupla de informar e polemizar, e de questionar se as restrições que existem até hoje são justas. É importante que a gente saiba porque isso é assim e, se for o caso, porque deve continuar assim.

O Mineiro e o Queijo

Documentário sobre a produção artesanal de queijo em Minas Gerais, que chegou no Estado no século 18. (Documentário)
País: Brasil/2011
Direção: Helvécio Ratton
Duração: 72 minutos
Classificação: Livre

terça-feira, 27 de setembro de 2011

A concha e a virgem, de Gonçalves Dias (1823-1864)

Linda concha que passava,
Boiando por sobre o mar,
Junto a uma rocha, onde estava
Triste donzela a pensar,

Perguntou-lhe: - "Virgem bela,
Que fazes no teu cismar?"
- "E tu, pergunta a donzela,
"Que fazes no teu vagar?"

Responde a concha: - "Formada
Por estas águas do mar,
Sou pelas águas levada,
Nem sei onde vou parar!"

Responde a virgem sentida,
Que estava triste a pensar:
- "Eu também vago na vida,
Como tu vagas no mar!"

"Vais duma a outra das vagas,
Eu dum a outro cismar;
Tu indolente divagas,
Eu sofro triste a cantar.

"Vais onde te leva a sorte,
Eu, onde me leva Deus:
Buscas a vida, - eu a morte;
Buscas a terra, - eu os céus!

Mundo tem 200 milhões de desempregados, diz estudo da OIT

O mundo tem, hoje, cerca de 200 milhões de desempregados. E, desde a crise financeira internacional de 2008, mais de 20 milhões de empregos foram perdidos, segundo estudo publicado hoje (26) pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e pela Organização para Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Segundo o estudo, apesar de o índice de desemprego ter caído na maioria dos países do G20 (grupo que reúne os países ricos e os principais emergentes), o declínio foi moderado. Em alguns países, como Brasil, Alemanha e Indonésia, os empregos têm crescido fortemente. Em outros, como Argentina, Austrália e Rússia, a abertura de vagas é muito pequena ou inexistente. E um terceiro grupo, que engloba África do Sul, Espanha, Reino Unido e Estados Unidos, além dos países da União Europeia, convivem com altos índices de desemprego.

A crise tem mudado algumas das estruturas do emprego em vários países. As economias avançadas têm perdido muitas vagas na indústria. Já nos países emergentes, os empregos no setor de manufaturados e de serviços têm apresentado bons índices de crescimento.

A crise econômica tem afetado, principalmente, a abertura de vagas para os mais jovens. O estudo informa que, em todos os países do G20, o desemprego entre os jovens é duas a três vezes maior que o desemprego dos adultos.

Foi verificada, ainda, uma tendência de ampliação do prazo de espera por um novo emprego. Um terço ou mais dos desempregados na França, Itália, Alemanha, Espanha, África do Sul e no Japão estava há mais de um ano sem trabalho nos primeiros quatro meses de 2011. O estudo mostrou que, para que o mundo volte aos níveis de emprego pré-crise, seria necessário aumentar em 1,3% ao ano, até 2015, o número atual de vagas.

Arábia Saudita libera voto e elegibilidade para as mulheres

O rei Abdullah da Arábia Saudita garantiu, este domingo, o direito feminino ao voto e à disputa de eleições municipais, um feito inédito para o país ultraconservador, onde as mulheres são sujeitas a muitas restrições.

"A partir da próxima legislatura, as mulheres terão o direito de disputar eleições municipais e escolher candidatos, segundo os princípios islâmicos", afirmou, em um discurso no Conselho da Shura, transmitido ao vivo pela televisão estatal.

Ativistas dos direitos das mulheres há tempos lutavam pelo direito ao voto feminino neste reino do Golfo, que segue uma versão estrita do Islã sunita e proíbe as mulheres de dirigir ou viajar sem o consentimento de um guardião masculino.

Manal al-Sharif, uma consultora de segurança informática de 32 anos, detida em 22 de maio por 10 dias após publicar no site YouTube um vídeo no qual ela aparecia circulando de carro na cidade de Khobar, disse à AFP que a decisão do rei foi "histórica e corajosa".

"O rei é um reformista", disse ela a respeito do monarca de 86 anos, cujo país foi poupado da ′Primavera Árabe`, como ficou conhecida a onda de protestos que sacudiram a região e varreram os regimes autocráticos da Tunísia e do Egito.

A decisão real significa que as mulheres poderão participar das eleições previstas para daqui a quatro anos, uma vez que o próximo pleito será disputado na quinta-feira e as indicações já estão fechadas.

Além de participar das listas públicas únicas no país, as mulheres também teriam o direito de ingressar no Conselho (consultivo) da Shura, cujos membros são todos nomeados, afirmou o rei no discurso de inauguração da nova legislatura do conselho.

"Nós decidimos que as mulheres vão participar no Conselho da Shura como membros a partir da próxima legislatura", disse o rei em um movimento inesperado de apoio à emancipação feminina.

Na próxima quinta-feira, mais de 5.000 homens disputarão as eleições municipais, as segundas da história da Arábia Saudita, para preencher a metade das cadeiras dos 285 conselhos municipais do reino. A outra metade é indicada pelo governo.

As primeiras eleições foram celebradas em 2005, mas o governo estendeu a legislatura do atual conselho por dois anos.

O rei Abdullah disse que tomou esta decisão porque "nos recusamos a marginalizar o papel da mulher na sociedade saudita em todos os campos" e após "consultas com vários estudiosos".

Ele não mencionou qualquer coisa sobre o direito das mulheres de dirigir no reino, onde elas precisam contratar motoristas homens ou depender da boa vontade de parentes se não tiverem os meios de fazê-lo.

No entanto, ele disse que "modernização equilibrada de acordo com nossos valores islâmicos é uma demanda necessária em uma época em que não há lugar para aqueles que hesitam" em seguir adiante.

A Arábia Saudita viu muitas mudanças desde que Abdullah subiu ao trono em 2005.

Norah al-Fayez, que foi indicada ao posto de vice-ministra da Educação para a educação feminina, em 2009, foi a primeira mulher nomeada para um cargo ministerial no país.

Em maio, mais de 60 intelectuais e ativistas pediram um boicote da votação desta semana porque "os conselhos municipais não têm a autoridade para exercer seu papel efetivamente" e "a metade de seus membros são indicados", além de excluírem as mulheres.

Segundo fontes oficiais, o Conselho da Shura recomendou permitir o voto feminino nas próximas eleições locais.

Da AFP Paris

Grupo de 40 empresas concentra 54% das exportações

De janeiro a agosto, 40 empresas foram responsáveis por 53,9% das exportações brasileiras, uma concentração que preocupa operadores de comércio exterior. Dos US$ 166,713 bilhões exportados no período, US$ 89,863 bilhões vieram de transações feitas por este grupo restrito de empresas, de acordo com números do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Dados da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) dão conta de que no ano, até agosto, a lista completa de exportadores era composta por 17.005 empresas, o que significa dizer que 16.965 responderam pelos 46,1% restantes de todo o produto de exportação brasileiro, o equivalente a US$ 76 849 bilhões.

"Nos últimos anos o Brasil diversificou os mercados para os quais exporta, mas a pauta de exportação se concentrou em um grupo muito pequeno de empresas e, basicamente, sobre apenas quatro produtos", diz José Augusto de Castro, vice-presidente da AEB, referindo-se a petróleo, minério de ferro, carnes (bovina e de frango) e soja. Esta concentração, de acordo com o presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior (Abracex), Primo Roberto Segatto, tem muito a ver com o aumento dos preços das commodities no mercado externo nos últimos anos.

Segatto tem números mais recentes que os do MIDC mostrando que até a terceira semana de setembro as exportações de semimanufaturados no ano cresceram 43% em relação a igual período do ano passado, puxadas por óleo de soja, aço, ouro, couros e peles, açúcar e celulose. Os embarques de produtos primários cresceram 38%, com destaque para fumo em folha, milho em grão, café, carnes de frango e bovina e petróleo. Já os manufaturados, compostos por veículos de passeio, aparelhos e máquinas de terraplenagem, autopeças e polímeros plásticos, cresceram apenas 14%. "Essa concentração é ruim porque desmonta a teoria da pulverização: é melhor, especialmente em momentos de crise, termos muitos que exportam pouco do que poucos que exportam muito", lamenta o presidente da Abracex.

Castro, da AEB, entende que o que ocorreu no Brasil foi uma "elitização" do comércio exterior. Para ele, não é saudável que um grupo formado por Vale, Petrobras, Bunge e Cargill responda por 27,17% das exportações registradas de janeiro agosto, conforme mostram os dados do MDIC. A participação da Vale no total passou de 10,51% no acumulado de janeiro a agosto do ano passado para 13,20% em igual período deste ano. A participação da Petrobras subiu de 9,15% para 9,58%. A Bunge passou 2,47% para 2,69%. E a Cargill até reduziu sua participação, de 1,75% para 1,70%, mas continua na quarta colocação. Sozinhas, essas quatro empresas respondem por pouco mais da metade das exportações do grupo de 40 que respondem por mais da metade de todas as exportações brasileiras.

De acordo com os dados do MDIC, a Vale exportou US$ 22,001 bilhões nos primeiros oito meses de 2011, ou 66,6% a mais sobre os US$ 13,248 bilhões acumulados de janeiro a agosto de 2010. A Petrobras acumulou vendas de US$ 15,969 bilhões, 38,41% a mais que em idêntico período do ano passado. As exportações da Bunge cresceram 43,75%, passando de US$ 3,116 bilhões para US$ 4,479 bilhões. E a Cargill, embora tenha reduzido a participação no total das exportações, viu seus valor embarcado crescer 28,73%, de US$ 2,204 bilhões para US$ 2,837 bilhões.

Na outra ponta, empresas exportadoras de produtos manufaturados, com maior valor agregado, estão vendo a fatia nas exportações cair. A participação da Embraer caiu 1,82% de janeiro a agosto do ano passado para 1,31% no mesmo período deste ano. Em valores a queda foi de 4,94%, de US$ 2,295 bilhões para US$ 2,181 bilhões. A Braskem, de acordo com os números do MDIC, elevou em 14,94% as vendas em valores, de US$ 1,652 bilhão para US$ 1,899 bilhão, mas viu sua participação no total das exportações recuar de 1,31% para 1,14%. Já participação da Volkswagen, no mesmo período, recuou de 0,88% para 0,71%.

Poluição do ar mata pelo menos 2 milhões de pessoas por ano no mundo, diz OMS

Pelo menos 2 milhões de pessoas morrem no mundo devido à má qualidade do ar causada por poluição. A conclusão é da Organização Mundial de Saúde (OMS), que analisou dados de 1.100 cidades, de 91 países, com mais de 100 mil habitantes. Segundo especialistas, a contaminação do ar pode levar a problemas cardíacos e respiratórios.

"A poluição atmosférica é um grave problema de saúde ambiental. É vital que aumentemos os esforços para reduzir o impacto na saúde que [a poluição atmosférica] cria", disse a diretora de Saúde Pública e Meio Ambiente da OMS, Maria Neira.

De acordo com ela, é necessário que as autoridades de cada país façam monitoramentos constantes para medir a poluição do ar. “[Assim] podemos reduzir significativamente o número de pessoas que sofrem de doenças respiratórias e cardíacas e até de câncer de pulmão.”

Segundo Neira, é fundamental lembrar que a poluição do ar é provocada por vários fatores, como os gases de escapamentos dos veículos, a fumaça de fábricas e fuligem das usinas de carvão. “Em muitos países não há qualquer regulamentação sobre a qualidade do ar. Quando há normas nacionais, elas variam muito na sua aplicação.”

A OMS informou ainda que em 2008 cerca de 1,34 milhão de pessoas morreram prematuramente por causa dos efeitos da poluição sobre a saúde. Segundo especialistas, políticas de prevenção podem evitar as mortes prematuras.

Maspe volta à ativa

O Museu de Arte Sacra de Pernambuco (Maspe) volta a funcionar em horário integral, no Alto da Sé (Olinda). Hoje, às 15h, há atividades em comemorações ao dia de São Cosme e Damião, os padroeiros das crianças. O acervo fixo reúne objetos de culto, como santos, relicários e pinturas. O destaque é a coleção de imagens eruditas, policromadas e douradas do século 16. Visitação de segunda a quinta-feira, das 9h às 17h, e aos domingos, das 9h às 14h. Ingressos: R$ 2 e R$ 1 (meia). Fone: 3184-3154.

Um tiro


O protesto do poeta popular Miró contra a violência está em uma grafitagem nos imóveis do Cais José Estelita. Como reforço da campanha em favor do desarmamento, que sugere a entrega espontânea de armas, um apelo ainda muito pouco ouvido.

Quatro milhões de desabrigados na Índia

As inundações no leste da Índia provocaram a morte de 60 pessoas e deixaram quatro milhões de desabrigados, anunciou ontem o ministério para a gestão das catástrofes do estado de Orissa. As regiões costeiras do estado foram particularmente afetadas. De acordo com as equipes de emergência, 150 mil pessoas que moram nas áreas próximas ao mar foram retiradas de suas casas no fim de semana, após a cheia dos rios Brahmani e Baitarani. O governo utiliza helicópteros para distribuir alimentos. Além disso, 250 centros foram criados para distribuir comida e artigos de primeira necessidade.

Morre Nobel da Paz queniana aos 71 anos



NAIROBI - A queniana Wangari Maathai, que lutou em favor do meio ambiente e dos direitos das mulheres, recebendo o reconhecimento internacional e ganhando a simpatia de seus compatriotas, morreu anteontem aos 71 anos por complicações causadas por um câncer. Foi por sua ação nesta área que a militante recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 2004.

É com imensa tristeza que a família de Wangari Maathai anuncia sua morte no dia 25 de setembro de 2011 após um longo e corajoso combate contra o câncer”, anunciou o Movimento do Cinturão Verde, de luta contra o desflorestamento, que ela criou em 1977.
Ela foi a primeira mulher africana a receber o Nobel. Sua luta busca promover a biodiversidade, criar empregos para as mulheres e valorizar a imagem feminina na sociedade. O Movimento do Cinturão Verde afirma ter plantado 47 milhões de árvores no continente africano.

Manifestações de respeito e carinho se multiplicaram ontem depois do anúncio da morte de Wangari. Para Achim Steiner, diretor executivo da Agência das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), a militante “era uma força da natureza. Enquanto outros usam seu poder e força vital para destruir e degradar o meio ambiente para fazer lucro em pouco tempo, ela utilizou para criar obstáculos, mobilizar as populações e defender a preservação do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável, afirmou.

O presidente queniano Mwai Kibaki lamentou a perda de um ícone internacional, que deixará um vazio no mundo da proteção do meio ambiente.
O ministro francês das Relações Exteriores, Alain Juppé, disse que Wangari Maathai era uma voz poderosa em favor de um desenvolvimento partilhado e harmonioso que vai deixar saudades no mundo.

Financiamento público

Cálculos da ONG Contas Abertas: o brasileiro pagou R$ 850 milhões pelo guia eleitoral da campanha de 2010, um custo 272% maior que na eleição presidencial de 2006. E a maioria dos partidos ainda defende abertamente o financiamento público das campanhas eleitorais.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Atitude, de Cecília Meireles (1901-1964)



Minha esperança perdeu seu
nome...
Fechei meu sonho, para chamá-
la.
A tristeza transfigurou-me
como um luar que entra numa
sala.

O último passo do destino
parará sem forma funesta,
e a noite oscilará como um
dourado sino
derramando flores de festa.

Meus olhos estarão sobre
espelhos, pensando
nos caminhos que existem
dentro das coisas transparentes.

E um campo de estrelas irá
brotando
atrás das lembranças ardentes

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Salve,Salve!, por Rafaela Galindo

Há exatos dez anos, o mundo assistiu atônito ao atentado contra o World Trade Center, em Nova York, planejado pelo líder da rede terrorista Al-Qaeda, Osama Bin Laden. Coincidentemente, este ano, os americanos comemoraram o sucesso da operação que conseguiu eliminar Bin Laden. No entanto, nas entrelinhas desse assunto ficam inúmeras incógnitas que não será a mídia sensacionalista e imparcial que irá desvendá-las.

Pois, nesse momento, a maioria dos suplementos impressos e televisivos disseca a morte das 3 mil vítimas do atentado, com uma dose bastante norte-americana para quem é brasileiro. Claro que não podemos nos esquecer que no massacre às Torres também morreram brasileiros. Mas, no entanto, não deveríamos nos esquecer também que enquanto norte-americanos respiram “aliviados” a morte do seu inimigo número um, uma boa parte da comunidade islâmica vêm sofrendo preconceitos e sendo perseguida ao redor do mundo.

A mídia vira-lata brasileira esqueceu, por exemplo, de relembrar a população que graças a essa guerra EUA versus Islâmicos, brasileiros pagaram com a vida lá fora, ou quem não se lembra do estudante Jean Charles de Menezes, morto pela polícia, em 2005, após ser confundido com um terrorista árabe dentro de um trem. Na época, a Inglaterra e outros países europeus haviam compartilhado do sonho bélico, louco, operístico e bizarro do então presidente George W.Bush. É! No caso de Jean nada aconteceu, e no ano passado os ingleses julgaram que a Scotland Yard (polícia inglesa) agiu em autodefesa.

O fato é que a mídia trata o assunto do Oriente Médio com bastante imparcialidade, quando na verdade, como formadora de opinião, deveria informar verdadeiramente: começando pelos “porquês”. Por que Osama atacou o WTC e o Pentágono? Seria puramente a ação de um sádico louco? A história começa bem atrás e, infelizmente, não tenho como dissecá-la em um faminto artigo. Antes de tudo, deixo claro que não faço apologia a nenhum tipo de fanatismo, que seja islâmico ou americano.

Segundo Osama Bin Laden, em uma gravação feita alguns anos depois do atentado, o massacre teria ocorrido por causa do apoio norte-americano à Israel ( durante, antes e depois da Guerra Fria). Apoio esse não só político, mas financeiro. A verdade é que, nas entrelinhas da justificação dos EUA a esse apoio, envolve-se muito dinheiro, rios de petróleo e, consequentemente, a garantia da hegemonia econômica estadunidense. Prova disso é a ocupação de soldados norte-americanos no Afeganistão, que segundo os EUA estão lá para evitar maiores confrontos e terrorismo. Ao que parece, essas empreitadas norte-americanas e européias soam mais como pretexto de domínio e fortalecimento da supremacia do que o combate ao terrorismo de fato.

Chega a ser patético um presidente que ganha o prêmio Nobel da Paz no ano em que envia mais 40 mil soldadinhos americanos para o Afeganistão. Isso é prova inconteste da influência estadunidense sob as relações não somente comerciais, mas diplomáticas. Claro que nenhuma guerra é justificável, ambos os lados estão errados. Cabeças rolaram e rolarão ainda mais! O Brasil que se cuide, porque se o pré-sal realmente vingar (a expectativa é que sejam mais de 50 bilhões de barris de petróleo em 2020), os Estados Unidos podem crescer o olho e aí? Adeus a nossa Pátria Amada e Idolatrada. E então só restará o salve, salve!

sábado, 3 de setembro de 2011

Minha grande ternura, Manuel Bandeira

Minha grande ternura
Pelos passarinhos mortos;
Pelas pequeninas aranhas.

Minha grande ternura
Pelas mulheres que foram
meninas bonitas
E ficaram mulheres feias;
Pelas mulheres que foram
desejáveis
E deixaram de o ser.
Pelas mulheres que me amaram
E que eu não pude amar.

Minha grande ternura
Pelos poemas que
Não consegui realizar.

Minha grande ternura
Pelas amadas que
Envelheceram sem maldade.

Minha grande ternura
Pelas gotas de orvalho que
São o único enfeite de um
túmulo.

Manuel Bandeira (1886-1968)

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Trojan Reggae Rarities Box Set - Vol.3


A Caranguejos Antenados volta com um presente ao amante do reggae raiz: o disco Trojan Reggae Rarities Box Set. Neste artigo comentarei o volume 3, que completa esta trilogia de 50 músicas selecionadas pela gravadora lendária Trojan Records. Com 16 clássicos da música jamaicana, Reggae Rarities 3 é uma miscelânea de estilos harmônicos que formaram o reggae tradicional da região.

Do rocksteady ao dancehall, do dub ao mod reggae, Reggae Rarities resgata e apresenta artistas da era de ouro da música caribenha, contribuindo assim para a difusão das harmonias multiculturais da região, formada por várias matrizes étnicas díspares que colonizaram a área. Desse caldeirão fervente nasceram grandes nomes da música que estão presentes neste disco.

Desde releituras de clássicos da música internacional como Moon River, na voz de Greyhound, e Rose Garden, na voz de Teddy Brown, passando pelas divas da The Marvels, cantando Touch me baby, e Sugar Simone em Rock and Cry, até o roots Junior english em Back to the scene. Pedradas como B.B.C., de Nick Thomas, Check out yourself, do The Cimarons e Rambling man, de Gene Rondo, incrementam este clássico da música mundial.

Com o objetivo de difundir e fomentar a cultura jamaicana ao redor do planeta, a Trojan Records já lançou mais de 50 coletâneas de músicos esquecidos pela indústria elitista e conservadora, que deixa na penumbra grandes artistas e acaba por criar lacunas terríveis na história desta magnífica expressão artística, alimentando uma engrenagem cheia de regras cujo único interesse da gravação e divulgação das artes é o lucro obtido, mesmo que esse venha em detrimento da qualidade e profissionalismo.

Músicas:

01.Keep on trying – Tony Nash
02.Moon river – Nicky Thomas
03.B.B.C – Teddy Brown
04.Rose garden – Dave Barker
05.Shacatac – Dave Barker
06.Little today, little tomorrow – Winston Francis
07.Check out yourself – The Cimarons
08.You can’t buy my love – Donna Dawson
09.Just because – Danny Ray
10.Back on the scene – Junior English
11.Touch me baby – The Marvels
12.How could you do this – Dansak & Nora Dean
13.Ramblin’ man – Gene Rondo
14.I’ll be free someday – Candy Lewis
15.You are mine - Honeyboy
16.Reggae man – Teddy Davis

Site onde o download do disco está disponível:
http://casaraodoreggae.blogspot.com/2010/04/trojan-reggae-rarities-box-set.html

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Carolina, de Machado de Assis

Querida, ao pé do leito
derradeiro
Em que descansas dessa longa
vida,
Aqui venho e virei, pobre
querida,
Trazer-te o coração do companheiro.

Pulsa-lhe aquele afeto
verdadeiro
Que, a despeito de toda a
humana lida,
Fez a nossa existência
apetecida
E num recanto pôs o mundo
inteiro.

Trago-te flores - restos
arrancados
Da terra que nos viu passar
unidos
E ora mortos nos deixa e separados.

Que eu, se tenho nos olhos
malferidos
Pensamentos de vida
formulados,
São pensamentos idos e
vividos.

Machado de Assis (1839-1908)

terça-feira, 19 de julho de 2011

Última metáfora, de Dione Barreto

Antes de ontem
se importava em manter as dores
debaixo do tapete

nos dias de número par
varria solidões
temperava saudades
e quando em vez
descongelava a cama

mas era no fogão
de acendedor
automático
onde requentava
cotidianamente
pedaços de filmes
pitadas de livros
conchas de espetáculos
ao som do renitente
ban-do-ne-on
de astor piazzola

chegado o dia
de número impar
banhou-se
vestiu-se
conferiu o calendário
e sentenciou:
parto de bagagem rápida
antes que o altar doméstico
destrua

a possibilidade da última
metáfora

Dione Barreto é poeta paraibana

Orion, de Carlos Drummond de Andrade

A primeira namorada, tão alta
que o beijo não a alcançava,
o pescoço não a alcançava,
nem mesmo a voz a alcançava.
Eram quilômetros de silêncio.
Luzia na janela do sobradão.

In Boitempo, 1976

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Tomara, de Vinícius de Moraes

Toma
Que você volte depressa
Que você não se despeça
Nunca mais do meu carinho
E chore, se arrependa
E pense muito
Que é melhor se sofrer junto
Que viver feliz sozinho
Tomara
Que a tristeza te convença
Que a saudade não compensa
E que a ausência não dá paz
E o verdadeiro amor de quem
se ama
Tece a mesma antiga trama
Que não se desfaz
E a coisa mais divina
Que há no mundo
É viver cada segundo
Como nunca mais

Vinícius de Moraes é poeta carioca

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Meu pai, de Ferreira Gullar

Meu pai foi
ao Rio se tratar de
um câncer (que
o mataria) mas
perdeu os óculos
na viagem

quando lhe levei
os óculos novos
comprados na Ótica
Fluminense ele
examinou o estojo com
o nome da loja dobrou
a nota de compra guardou-a
no bolso e falou:
quero ver
agora qual é o
sacana que vai dizer
que eu nunca estive
no Rio de Janeiro

Ferreira Gullar, poeta maranhense

segunda-feira, 16 de maio de 2011

A crítica social e política de Honoré Daumier


Por causa desta charge, do Rei da França como Gargântua, Daumier ficou preso seis meses no Ste. Pelagic em 1832

Conhecido em seu tempo como o “Michelangelo da caricatura”, Honoré-Victorien Daumier (26.02.1808, Marselha – 10.02.1879, Valmondois) foi um caricaturista, chargista, pintor e ilustrador francês. Atualmente, Daumier é considerado um dos mestres da litografia e um dos pioneiros do naturalismo.

Em 1816, atendendo às ambições do pai que queria seguir carreira de poeta, Daumier muda-se com a família para Paris. Nessa época, após freqüentar o Museu do Louvre, onde admirava e estudava as valiosas coleções do acervo, Daumier começou a se interessar pelas artes plásticas. Em 1822, iniciou as aulas no ateliê de Lenoir, além de estudar profundamente as obras de Rubens e Ticiano.

Suas primeiras litografias datam de 1820. Sua caricatura Gargântua, que ridicularizava o rei Luís Filipe, custou-lhe seis meses de prisão em 1831. Privado da liberdade, Daumier passava o tempo retratando os presos. Após essa temporada encarcerado, o ilustrador assinou um contrato com a revista La Caricature e, mais tarde, com a Le Charivari.

São conhecidas mais de 4.000 litografias de Daumier. De fato, ele foi um dos litógrafos mais especializados e ácidos de seu tempo. Seus trabalhos reproduziam uma visão crítica, irônica e direta dos acontecimentos de sua época. Com uma linha, Daumier podia redefinir um conceito psicológico, como na obra Ratapoli (1850).

Depois de dominar a técnica da litografia, caracterizada pela crítica social e política, Daumier trabalhou como ilustrador para publicidade e o mercado editorial, influenciado pelo estilo de Charlet. Também desenvolveu a linguagem da charge, da caricatura e da pintura, onde sua paleta de cores simplificava-se nos tons ocre e terra.

As temáticas das obras de Daumier exploravam, antes de tudo, a dignidade humana através das personagens, como artistas em desgraça e crianças na miséria, assuntos que o mobilizava de maneira singular. Segundo Baudelaire, as obras de Daumier foram com justiça denominadas complementos da Comédia Humana.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

José, de Carlos Drummond de Andrade

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio - e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?

A partir do livro Sentimento do mundo (1940), Carlos Drummond de Andrade parece se armar em relação a si próprio e ao mundo. E, se o individualismo evidente nos primeiros livros é mais útil, não é por isso menor. O mesmo "eu-oblíquo" contempla-se a si e ao mundo, e, se muitas vezes o pronome na primeira pessoa desaparece, o poeta se desdobra em uma terceira pessoa, até chegar a um outro "eu", "José", que se pergunta sobre o significado da própria existência e do mundo.

Mas este José não é outro senão o próprio poeta. A personagem funciona, no poema, como o desdobramento da personalidade poética do autor, tanto quanto nas demais situações apontadas, atrás de quem o poeta se esconde e se desvenda. O "não-ser" se faz presente neste poema por meio do modo verbal subjuntivo que torna a ação imprecisa. José não dorme, não cansa, não morre, ele é duro, apenas segue. Sua dureza é o que existe e tudo o mais é o "nada" no qual ele se funde.

Chama-se a atenção para o caráter construtivo que o Existencialismo dá a categoria "nada": ele é o inexistente, mas traz em si o por fazer. Escrito durante a Segunda Guerra Mundial e da ditadura Vargas, José, apesar da dureza, ainda tem o impulso de continuar seguindo. Mesmo sem saber para onde. Vários músicos cantaram os versos de Carlos Drummond de Andrade, mas a versão de Paulo Diniz (abaixo) ficou marcada pela harmonia contagiante dos instrumentos:

terça-feira, 10 de maio de 2011

Parmigianino e Giambologna


Outra característica essencial do maneirismo é o alongamento intencional dos corpos e das proporções, o que pode ser visto nas três imagens em pé em Lacoonte, de El Greco, e também em A Virgem do pescoço longo, de Parmigianino (Francesco Mazzola; 1503-1540). Além do pescoço alongado da Virgem, essa característica é evidente em seus dedos compridos, bem como em toda a extensão do corpo – ela fa os anjos reunidos do lado esquerdo da pintura parecerem pequenos. Esse alongamento das proporções também é evidente no tratamento dado à perna esquerda e aos membros do Menino Jesus.


O grau de distorção nas obras maneiristas varia de artista para artista. As poses alongadas e distorcidas de O rapto das Sabinas, do escultor maneirista Giambologna (Jean Boulogne; 1509-1608), nascido em Flandres, são mais elegantes do que as poses retratadas na obra de El Greco ou Parmigianino. Produzido sem um patrono, o projeto deu a Giambologna a oportunidade de descobrir uma maneira de reunir várias imagens em uma composição única e relativamente complicada. O escultor incluiu o alongamento sutil na solução para os complexos problemas espaciais criados pelos três corpos entrelaçados.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Poema de sete faces, de Carlos Drummond de Andrade


Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu
coração.

Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus,
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria a solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.

Assim como A mão suja, Poema de sete faces faz parte da primeira parte do livro Antologia Poética, onde estão poemas que tratam da questão do indivíduo. O eu-lírico fragmentado se apresenta como um deslocado no mundo, na figura de gauche (palavra fancesa que significa, literalmente, esquerdo). A imagem retoma a tradição francesa do poeta inadaptado, que tem como referência central Baudelaire.

Alegoria do triunfo de Vênus (1540-1550), de Agnolo Bronzino


O artista florentino Agnolo Bronzino se especializou em realizar sofisticadas narrativas alegóricas. Ele fez cuidadosos estudos com modelos vivos e utilizou como referência para as imagens nuas presentes em Alegoria do triunfo de Vênus, de modo a criar uma cena de erotismo tranqüilo.

A composição da pintura é coesa e complexa. O velho no canto superior direito, com uma ampulheta posicionada acima dele, é a personificação do Tempo. Os demais personagens à direita representam os prazeres; já os personagens à esquerda personificam entes como o Esquecimento, o Ciúme e o Desespero. As imagens entrelaçadas e que olham para lados diferentes, a fim de acrescentar movimento à tela, juntamente com as mãos e os pés alongados dos personagens centrais são típicos das obras do estilo maneirista.

Bronzino, além de pintor, foi um intelectual e poeta. Essa obra foi influenciada pela poesia erótica do poeta italiano Petraca, o que pode ser visto na expressão de intimidade de Vênus e Cupido. Mas a relação entre os dois principais personagens tem também um quê de obscenidade. Bronzino se sobressaiu ao retratar as superfícies e a pele de Vênus com um brilho especial e com um acabamento delicadamente polido, semelhante ao alabastro. Seus membros foram modelados à perfeição e bem definidos com contornos claros, reminiscentes da escultura clássica.

A obra foi encomendada como um presente para Francisco I da França, e seu simbolismo – cujo significado preciso é desconhecido – teria provocado entusiasmadas discussões palacianas. Mistura de erotismo estilizado com o que parece ser uma edificante alegoria, falta à obra, contudo, a intensidade emocional dos trabalhos do mestre de Bronzino, Pontormo.

DETALHES DA OBRA

1.Esquecimento

A imagem do Esquecimento, com uma expressão horrorizada e um rosto mascarado, parece tentar encobrir o amor incestuoso de Vênus por seu filho, Cupido.
O esquecimento parece ser impedido pelo poderoso braço da imagem do Tempo, que sabe que todos os assuntos dos homens são passageiros.

2.Beijo incestuoso

Não há dúvida sobre o caráter erótico do beijo entre Vênus e Cupido, já que a língua dela parece estar em movimento. Cupido é identificado por suas asas e flechas, e Vênus pela maçã, de modo que os espectadores não possam ignorar a verdade da pintura. Alguns proprietários do quadro chegaram a fazer com que o detalhe da língua fosse encoberto.

3.Quimera

Agachada atrás do menino feliz está a personagem alegórica da Quimera, uma criatura cujo corpo grotesco destoa do rosto encantador. Com uma de suas mãos, Quimera oferece a Vênus um bolo de mel, mas a outra mão esconde o ferrão em sua cauda. Sua presença é um aviso da dor que o amor erótico pode causar.

4.Menino travesso

Segurando pétalas de rosa em suas mãos, o menino travesso está pisando num espinho, reforçando, assim, o caráter ambivalente do amor. Ele costuma ser interpretado como o Prazer, mas também como o Louco ou Zombeteiro. A posição de seu braço, prestes a espalhar as pétalas, acrescenta um toque de movimento típico do maneirismo.

5.Máscaras

Outro lembrete das falsas aparências, se voltam para Vênus, e o espectador acompanha a linda de visão por todo o braço esquerdo da deusa, atravessa seu corpo, passa por seu braço direito e segue até o braço do Tempo. Nessa estrutura, os olhos acompanham o olhar de vários personagens, quase todos voltados para Vênus.

6.Mulher uivando

Esta personagem elouquecida é um dos poucos elementos a arruinar a atmosfera leve e divertida da pintura. A mulher curva a cabeça e toca em seus cabelos com mãos que parecem garras, com todos os tendões à mostra. A imagem personifica o Desespero ou Ciúme, e às vezes é relacionada à loucura causada pela sífilis.

domingo, 8 de maio de 2011

A mão suja, de Carlos Drummond de Andrade

Minha mão está suja.
Preciso cortá-la.
Não adianta lavar.
A água está podre.
Nem ensaboar.
O sabão está ruim.
A mão está suja,
suja há muitos anos.

A princípio oculta
no bolso da calça,
quem o saberia?
Gente me chamava
na ponta do gesto.
A mão escondida
no corpo espalhava
seu escuro rastro.
E vi que era igual
usá-la ou guardá-la.
O nojo era um só.

Ai, quantas noites
no fundo da casa
lavei essa mão,
poli-a, escovei-a.
Cristal ou diamante,
por maior contraste,
quisera torná-la,
ou mesmo, por fim,
uma simples mão branca,
mão limpa de homem,
que se pode pegar
e levar à boca
ou prender à nossa
num desses momentos
em que dois se confessam
sem dizer palavra...
A mão incurável
abre dedos sujos.

E era um sujo vil,
não sujo de terra,
sujo de carvão,
casca de ferida,
suor na camisa
de quem trabalhou.
Era um triste sujo
feito de doença
e de mortal desgosto
na pele enfarada.
Não era sujo preto
- o preto tão puro
numa coisa branca.
Era sujo pardo,
pardo, tardo, cardo.

Inútil reter
a ignóbil mão suja
posta sobre a mesa.
Depressa, cortá-la,
fazê-la em pedaços
e jogá-la ao mar!
Com o tempo, a esperança
e seus maquinismos,
outra mão virá
pura - transparente -
colar-se a meu braço.

Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira do Mato Dentro, em Minas Gerais, no dia 31 de outubro de 1902. Filho de uma família de fazendeiros em decadência, Drummond estudou na cidade de Belo Horizonte e com os jesuítas no Colégio Anchieta de Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, de onde foi expulso por "insubordinação mental". De volta a Belo Horizonte, começou a carreira de escritor como colaborador do Diário de Minas, jornal que aglutinava os adeptos locais do incipiente movimento modernista brasileiro.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

O fantástico livro de receitas bizarras do mundo

Nos próximos dias, o leitor poderá conferir receitas consideradas nojentas e assustadoras pela maioria das pessoas. Tem vinho de rato, sopa de sangue e ovo com embrião de pato, além de produtos já prontos e um guia com os restaurantes mais esquisitos do planeta. Na cardápio de hoje, as sopas. Bom apetite!

SOPA DE SANGUE DE PATO

Origem – Vietnã

Beber sangue é uma herança de nosso passado como caçadores. Ele já vinha “de brinde” com as caças, tem pouca gordura e muitos nutrientes. Em alguns países, o costume persistiu: há sopas de sangue na Polônia, Suécia, Filipinas e México. A tiêt canh é feita com sangue cru de pato, temperado com amendoim, vegetais e gengibre. Depois de ir à geladeira, ele coagula e fica igual gelatina.

No Vietnã, também é comum beber sangue de cobra. Matam o bicho na hora, para poder servi-lo anda fresco e quente.

SOPA DE LAGARTO



Origem – China

Para essa receita, você precisa de um macho e uma fêmea. Mas não se preocupe: é assim mesmo, em casaizinhos, que eles são vendidos em vários mercados da Ásia. Os comerciantes ainda os empalam para exibi-los como se fossem pipas. Então, não se esqueça de tirar os palitos quando for cortá-los em pedaços e cozinhá-los com água, caldo e inhame. A textura e o gosto se parecem com os de peixe.

TROMPAS DE FALÓPIO

Origem – China

A China sempre foi um país de famintos. Há registros de ao menos um grande caso de fome em alguma de suas províncias todo ano desde o período antes de Cristo até o começo do século 20. Por isso eles são especialistas em papar o que outros povos dispensam – como no caso do hasma, uma sopa de trompas de falópio desidratadas de rãs! O gosto lembra nossa tapioca e harmoniza com outras sopas doces.

Semana Maneirista

Todos os dias, a partir de hoje, postaremos imagens de pinturas de vários artistas, representantes dos mais variados estilos e das mais divergentes escolas. Cada semana abordaremos uma temática, podendo variar sobre a história do artista, de uma tendência ideológica ou estética ou, ainda, sobre evento disponível à apreciação na nossa cidade.



Para começo de temporada, a obra maneirista Laocoonte(c.1610-1614), com 1,37m x 1,72m, óleo sobre tela do pintor grego, El Greco, exposta atualmente no National Gallery of Art, em Washington, D.C., EUA. O termo "maneirista" vem da palavra italiana para estilo (no sentido de elegância): maniera. Foram obras descritas como "artificiais" e "esquisitas" por divergirem dos valores renascentistas em voga , uma vez que o maneirismo, de certa forma, foi uma reação ao naturalismo relativo da Alta Renascença.

A arte maneirista em geral envolve o exagero e algum tipo de estranhamento, principalmente nas cores fortes, como nos tons ácidos de Laocoonte (acima). Esta impressionante obra mostra o sacerdote Laocoonte sendo punido pelos deuses, vistos do lado direito da pintura, por tentar alertar os troianos da ameaça do Cavalo de Troia, que escondia um grupo de soldados gregos. Enviadas pelos deuses, serpentes marinhas são vistas matando Laocoonte e seus dois filhos.

A fantasmagórica luz branca na obra sugere que a cena é iluminada pelo clarão de um raio, um efeito dramático reforçado pelo branco nas agourentas nuvens ao longe. Há também um toque de fantasia na pintura: as rochas em primeiro plano parecem disformes e imateriais como as nuvens no horizonte; do lado esquerdo da tela, os dois elementos quase se fundem. Em comum com muitas obras maneiristas, esta pintura é extremamente criativa e complexa, mas pode parecer misteriosa aos olhos contemporâneos.

No passado, alguns críticos sugeriram que o estilo distorcido e o ritmo fluido de El Greco eram sinais de insanidade. Obras como Laocoonte, O enterro do conde de Orgaz (1586-1588) e Assunção da Virgem (1577-1579) parecem menos "esquisitas", quando se reconhece o fervor espiritual que salta aos olhos a cada pincelada. El Greco nasce Doménikos Theotokópoulos em Creta, então parte da República Veneziana. "El Greco" era o codinome que ele usava para assinar suas obras na Grécia. Ele estudou para ser pintor de ícones e a influência da arte bizantina é perceptível em seu trabalho.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Uma câmera na mão e uma idéia na cabeça: por um cinema da contaminação, por Caio Rodrigues


Considerado a obra inspiradora do Cinema Novo, Rio 40 graus, do diretor Nelson Pereira dos Santos, é a narrativa da história da sociedade brasileira no Rio de Janeiro pós-governo Getúlio Vargas. Através do cotidiano de cinco meninos de uma favela que tentam ganhar a vida vendendo amendoim, o diretor e roteirista denuncia as contradições do sistema capitalista então vigente.

Produzido em 1955, o filme possui forte influência do realismo poético francês, notadamente da nouvelle vague, e do neo-realismo italiano, ao buscar, através do uso de elementos da realidade numa peça de ficção, representar a realidade social e econômica de uma época. Nelson Pereira dos Santos era comunista filiado ao partido PCB e utilizou Rio 40 graus como veículo estético-ideológico de resistência.

Sua temática, protagonizada por (não) atores amadores, analisa as pessoas da classe operária imersas em um ambiente injusto e fatalista, sempre encontrando a frustração na eterna busca por melhores condições de vida. Na exploração da crônica selvagem do lumpemproletariado, na utilização de uma linguagem popularesca e na radical experiência de contaminação através da “apresentação” da sociedade em vez da representação, Rio 40 graus é um filme de desterritorialização.

O filme enfrentou vários problemas desde sua concepção, como a censura da obra pelo chefe da Segurança Pública na época, Geraldo de Menezes Cortes, ao alegar que a mesma estava repleta de elementos comunistas, passava uma má imagem de políticos e possuía várias gírias, além de ser mentiroso, já que nunca se havia registrado, até aquele momento, a temperatura de 40 graus no Rio de Janeiro.

Precursor do movimento que nasceu para elevar o status do cinema de arte nacional, Rio 40 graus é parte importante da filmografia essencial para qualquer cinéfilo. No Brasil, nomes como Glauber Rocha, Rogério Sganzerla e Leon Hirszmann se lançaram como defensores dos preceitos e da estética estabelecida no país por Nelson Pereira dos Santos.